Inverno da Alma (Winter´s Bone, EUA, 2010)

(Contém Spoiler)

A premiação do Oscar há tempos vem se tornando previsível e um dos fatos que comprovam essa afirmação é a escolha de indicar a cada ano um filme independente de baixo orçamento para figurar entre os melhores do ano. A academia se rendeu em 1997, ao modesto filme britânico Ou Tudo Ou Nada, que pouco se falava até então, em 2000, foi à vez de um dos primeiros filmes de Tobey Maguire entrar nesse patamar, Regras da Vida, talvez 2007 e 2008 com a Pequena Miss Sunshine e Juno, seja os exemplos emblemáticos da “quase adoção” que o evento acaba tendo indicando filmes que poderiam passar despercebidos devido o pouco custo que refletem diretamente na pouca distribuição de cópias.

Mas o fato que ser indicado ao Oscar acaba causando o oposto do seu destino inicial, conhecido pelo publico e ganhando status de indie a projeção torna-se cultuada. Não que os filmes que eu citei são ruins, mas a fórmula fica desgastada, a cada ano, já sabe-se que vai ter na lista uma produção de porte pequena. 


Inverno da Alma é o exemplo notório de 2011. Só que podemos dizer com cem por cento da certeza que se não fosse lembrado pelo troféu do cinema, muito cinéfilo nunca ouviria falar da história dirigida pela diretora americana Debra Granik. Isso, devido o pouco ritmo e sentimento que a trama carrega.

Com um roteiro bem estruturado e tecnicamente definido: a produção percorre pelo abismo da realidade chegando ao quase registro documental, no sentido de não haver recursos cinematográficos que estamos habituados a ver no cinema atual, uma direção de arte rebuscada, trilha sonora combinando com o sentimento que a cena está querendo passar e assim por diante. Nesse, tudo é bem cru.

Onde? Arkansas, um Estados Unidos diferente da riqueza de Nova York e Las Vegas, por exemplo, nesse ambiente é frio, o espaço é preenchido pelo campo, em quase cabanas, bem modestas, vive Ree (Jennifer Lawrence), uma garota linda de 17 anos, presa pelo laço familiar, cuida de dois irmãos menores e da sua mãe que segue numa situação quase vegetativa.

Sem dinheiro e dependendo de uma pequena madeireira, eles são ajudados pela vizinhança com comida. Algo que contextualiza bem o que é dito por ela ainda no começo da projeção, quando seu irmão pergunta olhando para a mistura do vizinho se deve pedir um pouco, também olhando, ela responde: Nunca pensa o que deveria ser oferecido.

Aplicando o velho ditado que pouca desgraça é bobagem: sua vida se torna ainda mais invernosa, quando um oficial de policia encosta-se a sua casa perguntando de seu pai, sem saber o paradeiro Ree não tem o que dizer, no entanto, seu pai está em custódia e deve comparecer a justiça o quanto antes, se caso não apareça as suas propriedade (casa e a madeireira) serão apropriadas pelos federais, já que ao sair em condicional ele havia dando as propriedades de garantia caso não voltasse.

Ree não pensa, afirma que vai achá-lo. Será que ela está perdendo sua alma? Não se tem certeza já que ela durante um tempo da produção não deixa escapar nenhum sentimento, segue sempre reta, em busca do objetivo de encontrar o pai pra salvar as crianças, não pelo fato de se preocupar com ele, mas também não sente ódio. O peso de tomar conta da família pode ter apagado qualquer restígio de sentimento da alma. 

Saindo à procura pelas redondezas descobre pela má disposição de ajuda dos parentes, que não se trata de uma pessoa que simplesmente não quis se entregar a justiça, mas sim, um buraco que pode não ter fim.

É através desses mesmos parentes e que ela descobre aos poucos qual é o sentimento que possui pelo pai e nessa hora, sem motivação e perspectiva que cai da armadura de ferro e derrama-se ao desespero pedido ajuda a mãe, consagrando a atriz Jeniffer Lawrence, que além de dominar a trama, mostra nessa cena de o porquê foi indicada ao Oscar de melhor atriz. Uma pena já que concorre com Natalie Portman, porque se não, a estatueta já estaria em suas mãos.

O tempo se esgotando e sem nenhuma esperança de mudar o quadro, Ross em outro momento incrível e decisivo da história tenta pelo menos ajeitar a sua vida e talvez seja isso que a sua alma adormecida queria desde o inicio, dentro de um quartel, ela pedi informações para um futuro alistamento no exército, o preenchimento do sonho, enfim a aproximação, não de longe, olhando, mas sim dando o primeiro passo, porém, sua situação impende regalias, um dos responsáveis pelo alistamento a recomenda voltar e cuidar dos irmãos. Outro feito de uma atriz, que não precisa se apegar a clichês, com uma simples olhada, simples mesma, como a cena, deixou o recado que seu sonho acabará de morrer. Um dos primeiros sinais da personagem abdicando a vida.

Pelos passos reais da vida, a situação de colapso que vemos na tela, sabe-se que como a realidade, tem data de inicio e data de término, de repente, Ross, descobre o paradeiro do corpo do seu pai, onde terá sua despedida e a concretização de estar viva, de sentir a alma. Nos últimos minutos, diante dos irmãos ela abdica de vez da vida, pra ser a mãe que de fato precisa ser, pra sempre, longe das nossas visões.

Não vá ao cinema achando que verá cinema, será chamado e sem saber testemunhará a vida como ela é, nada de engraçado, bem simples, sem a condição de lados, do bom e do mal, simplesmente um registro, onde se pode notar a três metros de distância de sua casa ou nem isso, no seu próprio apartamento, desligue o computador e verá - a vida diante de ti. Olhando e mostrando que apesar de dura como osso e fria como um inverno, ela tem solução. Vá de corpo e alma que chegará aonde tem que chegar.

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