Os 10 (+) 1 melhores filmes de 2011

Uma das coisas que mais gosto no fim do ano são as listas de melhores do ano, seja ela qual for. Sempre gostei, quando criança acompanhava a sintonia das principais estações radiofônicas para ter a minha própria retrospectiva e ouvir quais foram as melhores canções. Por isso, faço mais uma seleção de minha autoria, os melhores do cinema, mesmo que seja a mais superficial possível, já que assisti poucos filmes nesse ano. Abaixo dos filmes, insiro três explicações de o porquê gostei tanto.

11° Harry Potter e As Relíquias da Morte parte II

° O encerramento da maior saga da história do cinema
° A valorização de personagens secundários
° Cenas finais emocionantes






10° Blue Valentine

° Um dos filmes mais reais que já assisti
° Excelentes atuações
° Cenas memoráveis









09° Shocking Blue

° Uma narrativa precisa sobre o rompimento da adolescência para a vida adulta
° Cenas delicadas que fazem tornar o longa metragem uma poesia audiovisual
° O compromisso com o real, nada é exposto de forma incoerente, tudo tem um motivo, tudo se encaixa





08° O Palhaço

° Uma homenagem ao riso inocente
° A simplicidade trouxe o charme da produção
° Paulo José protagonizando uma das melhores cenas que eu já vi, quando se despende de sua mulher sem abrir a boca, somente com a feição do rosto





07° Meia Noite em Paris

° Woody Allen sabe criar roteiros de cinema como poucos
° Você senta na cadeira e literalmente entra na história do filme, sem se dar conta do relógio
° Owen Wilson está soberbo, o melhor alter-ego de Allen que já vi





06° Melancolia

° É aquele filme que acaba e você tenta recuperar o fôlego de tão intenso que é
° Uma abordagem autoral e instigante
° Metáforas nos diálogos e na tela que acabam atraindo sua mente






05° Rango

° Uma homenagem genial para o gênero faroeste
° Leve, divertido, engraçado, uma das melhores animações que eu já vi
° Se tornou tão bom, já que assisti sem nenhuma expectativa, também é aqueles filmes que você assisti e nem vê o tempo passar





04° Medianeiras - Buenos Aires na era do amor virtual

° Poético
° A narrativa beira a perfeição
° O diretor conseguiu transmitir a rapidez do mundo cibernético para a tela do cinema




03° A Árvore da Vida

° Não é um filme comum, é um ensinamento de vida
° Lindo e tocante, invadi sua alma
° Um experimento audiovisual






02° A pele que habito

° Uma aula de cinema
° Antonio Banderas soberbo
º Uma crítica poderosa ao comportamento humano, surpreendente





01° Cisne Negro

° Natalie Portman
° O melhor epílogo que eu já vi no cinema
º Aquela obra que décadas vão passar e haverá ainda alguém para comentar sobre


10 (+) 1 Melhores álbuns de 2011


Aproveitando a onda de listas dos melhores do ano, peço licença e arrisco dizer o que no meu universo particular considerei de melhor dentro da música. Uma lista nada definitiva, pelo contrário, com as escolhas podendo ser colocada em cheque, até porque não sou nenhum profissional da música e não tenho gabarito suficiente para apontar os melhores de fato. Mas, como um admirador da musicalidade ampla, independente de gênero, sou um entusiasta é preciso de alguma forma colocar tudo que determinados álbuns me causaram ao longo dos meus dias nesse ano que começa a ensaiar o seu final.

11° Thaís Gullin – ôÔÔôôÔôÔ

A cantora não é uma unanimidade por parte da crítica, muitas são as canetas que a definem como um ponto de interrogação, nesse disco a própria parece estar andando a determinada definição, passeia pelo seu bosque musical, com classe de quem está ciente do talento que possui, ao longo do percurso enxergamos alegria e lágrimas. Difícil não ser encantado com a verdade cantada.




10° Marisa Monte – O Que Você Quer Saber de Verdade

Tudo que a Marisa for cantar terão ouvidos que certamente pararão para escutar, apesar de não ser um trabalho genial, esse seu novo álbum segue uma linha que pode ser chamado do mais do mesmo em sua carreira, porém com o hiato de cinco anos, sua voz doce faz lembrar que mesmo parecida com outrora, suas músicas ainda manifestam um bem incrível e conseguem ser mais interessante do que muita coisa que está rolando hoje em dia.


09° Lenine – Chão

Lenine é um cientista da música popular. Sem o uso de bateria e com a inserção de alguns artifícios musicais nada convencionais, como o toque de um coração, o cantor pernambucano carrega seu ouvinte numa outra dimensão.






08° Gui Amabis – Memórias Luso Africanas

Produtor musical da cena alternativa de São Paulo chamou artistas do calibre de CrioloTulipa RuizCéu e Lucas Santana para fazer um registro musical e quase antropológico sobre as nossas origens portuguesas e africanas, regado de muito afrobeat. 




07° China – Moto Contínuo

Um álbum bem feitinho que esbanja despreocupação e em nenhum momento tenta ser mais do que é. Além de notarmos ao longo das faixas a queda do suor que o artista deve ter derramado para gerar vida a obra. A intensidade da voz cantada está nos versos, na afinação dos instrumentos. 





06° Filipe Catto- Fôlego

A princípio ao ouvir as faixas de Fôlego terá a certeza que se trata de uma cantora com o timbre de voz forte, parecido com a Gal Costa ou Maria Bethânia, mas não se engane, pois a potência musical vem de um gaucho que através do seu canto emociona seu ouvinte, declarando seus amores, seja com suas canções autorais ou as interpretações de clássicos da musica popular brasileira. 


05° Rodrigo Ogi – Crônicas da Cidade Cinza

Sem dúvidas esse foi o ano do rap nacional e ao vermos essa empreitada no futuro, teremos a certeza que esse momento tratou-se de um ponto crucial. Ogi faz parte da nova safra do gênero, conseguiu retratar por meio do seu álbum todas as peças do quebra cabeça chamado São Paulo. Um disco para ser lembrado nos próximos anos.




04° The Do - Both Ways Open Jaws

O único álbum internacional presente na lista, para ser franco esse foi um ano no qual posso dizer que noventa e cinco por cento do que eu ouvi era música brasileira, no entanto, a magnitude de Both Ways Open Jaws, desse grupo metade Frances e Finlandês,  foi capaz de subverter meus passos e ter me levado a outro universo.





03° Bárbara Eugênia – Journal de Band

No momento que ouvi esse álbum me encantei com a voz delicada de Bárbara. Nesse seu primeiro trabalho solo as suas canções mostram sua ousadia e inquietude em não fazer parte de um rótulo. Uma afilhada do Cidadão Instigado, com essa referência já vemos sua ousadia.






02° Criolo – Nó na Orelha

Criolo ao lançar esse álbum deixou de ser apenas um rapper para se tornar um cantor importante dentro da história da música popular brasileira. Apesar de existir uma indústria cultural tentando gerenciar seu novo percurso, o artista do Grajaú fez uma obra prima que certamente estará na lista de muitas pessoas ao encerrar esse século, como um dos trabalhos fundamentais para a música brasileira.





01° Leo Cavalcanti – Religar  

Se a música é a companheira de sua vida, as canções de Religar foram as mais precisas, que diversas vezes tocaram a alma, primordiais durante o ano inteiro. Esse álbum, propriamente é do ano de 2010, precisamente de dezembro, porém nenhum disco tocou mais no meu ouvido que não esse. Além de esteticamente ser uma grandiosidade, que o artista consegue interligar  numa canção, vários pontos da existência  de um individuo. 

A bola é minha

O Santos perdeu de uma forma vexatória para o Barcelona na final do mundial interclubes, em, todavia o time santista já havia perdido antes mesmo do apito inicial do juiz, os sintomas de uma possível derrota surgiu na escalação de sua equipe, optando por um esquema tático, do qual nunca havia experimentado antes., evidenciando o tamanho do  medo por enfrentar uma equipe dita pela maioria como coisa de outro mundo.

E, apesar do brilhantismo mostrado pela equipe catalã, compartilho com a mesma opinião de outrora e sigo novamente na contra mão em não idolatrar uma equipe de seres humanos mortais, passíveis de erros e acertos, no entanto, sei que contra fatos não há argumentos, a competência do Barcelona é evidente.

Porém o que chama atenção, a minha em especial, não são os números obtidos, mas os fatores que cercam as entrelinhas, nesse quesito sou um admirador assíduo dessa equipe, por serem tão comprometidos e deixarem de lado a vaidade e respeitarem a verdadeira protagonista do futebol que é a bola.

Apesar de serem famosos e donos de salários milionários, não deixam de ser proletariados do futebol, trabalhadores que levam a profissão a sério, outro dia ouvi numa rádio esportiva que a equipe no dia de uma partida em sua cidade não deixa de treinar e pós-treino são liberados para almoçarem com suas famílias, com o horário estipulado para retornarem próximo ao horário da partida oficial.

São assuntos assim esquecidos pela a maioria das pautas esportivas que estimulam o meu interesse, além do consolidado trabalho de base - em revelar jogadores, sem falar no senso de competitividade que encontramos na face de cada jogador e por que não dizer da concentração coletiva, que através dela vemos a aplicação tática demonstrada nos jogos.

Entretanto, vou parecer contraditório agora, quando tamanha jóia é valorizada de uma forma suspeita, visando bens invisíveis e ao mesmo tempo procura distanciá-la a colocando em um pedestal longínquo de nossos passos, acabo não conseguido enxergar beneficio algum. Em outras palavras é gozar com o pau do outro. A nossa imprensa causa isso em seus receptores, a sua maioria. 

A equipe catalã é formidável, no entanto esta longe de ser coisa de outro mundo, até porque quando se tem um objetivo há frente, virão inúmeras derrotas para enfim conseguir alcançar vitórias, argumento parecido, exposto por Neymar pós derrota, que a nossa porca impressa não chegou a divulgar nem no rodapé de suas veiculações. Visando somente as palavras que vende: “Nós da equipe do Santos, hoje aprendemos a como jogar futebol” quando na verdade essa frase faz parte de um contexto apagado pelos porcos da notícia.  

Contexto esse, que particularmente foi o melhor momento da decisão, uma fala que para os desprovidos de sensibilidade pode suar como desculpa de perdedor, mas na sua essência diz sobre entender o percurso da vida, que saiu mais ou menos assim de sua boca, segundo Neymar “Nós da equipe do Santos, hoje aprendemos a jogar futebol, no entanto, não devemos desvalorizar a nossa chegada nesse mundial, as nossas vitórias para chegar aqui, porém perdemos, mas indo de encontro a uma entrevista que ouvi do Josep Guardiola, que dizia que para chegar aonde chegou houve inúmeras derrotas. Por isso vamos aprender com essa derrota e fazermos de tudo para voltarmos ano que vem aqui”.

Não foi o poder divino que concedeu ao Barcelona a sua maneira de jogar, foi através de trabalho, derrotas e continuísmo ideológico que fizeram a equipe ser a número 1 do mundo. Se houver disposição, força coletiva e objetivo, outras equipes podem ser a equipe catalã, não só restringindo no campo de futebol, saindo, em nossas profissões se houver a soma de fatores que achamos ser a ideal para fazermos chegar ao nosso objetivo, também podemos ser o Barça. É tudo uma questão de para de achar que o outro pode ser e você não, ficar se exibindo pela qualidade alheia, imune de força para mostrar a mesma qualidade ou supera - lá.

O próprio Guardiola na sua entrevista coletiva disse que só tentou fazer o que o nosso futebol brasileiro sempre fez. Por minhas palavras é tratar a bola bem.


No final das contas, a imprensa te conta mentiras, é você acredita e repassa pra frente


Normalmente quem defende a idéia de que a equipe do Barcelona esteja anos a frente da equipe do Santos nunca assistiu um jogo sequer do clube catalão, na verdade sua opinião vem pautada diretamente pela esquizofrenia da nossa impressa jornalística, que segue insistindo nesse eufemismo estrangeiro de valorizar o que é do outro e desvalorizar o que é nosso, simples assim. O diagnóstico é esse, sem erro de errar. No entanto, é evidente que a superioridade do Barcelona existe, porém para deixar claro novamente, não com essa escala gigantesca que os veículos insistem em jogar a nossa goela abaixo, o seu status de melhor time do mundo emerge em conquistas realizadas e no entrosamento que está consolidado há diversas temporadas.  

Se fossemos exemplificar os jogadores, do lado catalão encontramos o segundo melhor jogador de futebol do mundo, Lionel Messi, que mostra com seus dribles o seu refinamento para desequilibrar uma partida, além de reunir em sua particularidade, talento e objetividade necessária para ser o protagonista de seu clube, além da grande estrela, existem jogadores que são excelentes coadjuvantes, Iniesta, Xavi, Villa, Pedro e Daniel Alves, além do badalado Frábegas na reserva, estão longe de serem bichos papões do futebol, ou seja, monstros sagrados do esporte que serão eternizados por suas individualidades, no entanto, o grupo usufruí bem do já citado entrosamento, que é o grande segredo desse sucesso, em outras palavras, coloque mão de obra parecida com a que tem atualmente no clube espanhol e adicione temporadas jogadas juntas e terá esse Barcelona.

Portanto, é claro que uma parte da imprensa através de seus comentários e suas escritas poderiam ser confundidos com dramaturgos, por criarem enormes melodramas em relação a esse possível confronto entre a equipe espanhola e a brasileira. Já do lado santista, vemos um time que mostra jogadores igualmente competentes em suas funções coadjuvantes, como Arouca (um injustiçado por não ser o volante titular da seleção brasileira), Danilo, Elano, Borges (Outro que deveria ganhar uma chance na seleção e usar o entrosamento com o Neymar ao nosso favor) e guardada as incríveis proporções Henrique mostra-se conciso e trabalha bem em coletivo, em compensação a velha zaga praiana mostra insegurança, logo dificuldade é pode ser um ponto para perder o titulo.

Com tudo, há dois jogadores essenciais e diferenciais que podem ser a arma para o êxito da vitoria santista, o primeiro: Paulo Henrique Ganso que aos poucos vem conquistado há velha segurança e mostra através de sua concentração uma visão de jogo soberba, além de sua técnica unido de tranqüilidade, um jogador diferenciado, daqueles meio campistas que evidentemente estão em escassez no futebol mundial. É para finalizar, o melhor jogador do mundo atua no clube santista, Neymar, com pouca idade, já escreveu seu nome entre os melhores do futebol, mostrando uma diversidade impressionante, junto a mesma objetividade de Messi, que do lado brasileiro está recheado de segurança, diferente do argentino que em algumas partidas desaparece.  Se fossemos se apegar a esse detalhe, ao de jogadores que podem fazer a diferença, Santos está ganhando por dois a um. Não tenho dúvidas, o craque brasileiro por meio de sua genialidade vai fazer o mundo inteiro testemunhar a sua arte e dar a resposta merecida a FIFA, por ter fechado os olhos e não tê-lo elegido entre os três melhores do mundo.

Quando o Santos ganhar do Barcelona, o quadro vai se inverter, a mesma imprensa que glorifica o time de estrelas espanhol estará no seu computador, rádio e televisão glorificando os meninos da vila. 

Eu viveria pra sempre numa tarde de sol


Às vezes não precisamos de tanto, abrir a janela e ser iluminado pelo sorriso do céu basta numa tarde de sol. Paralisar o pensamento, ouvir o nada surgir tendo em vista o sol batendo em você a quilômetros de distância do mundo, gratifica a existência, resplandece a situação. Talvez a minha escrita contenha um sentimento intimista de saber o meu tamanho no universo que habito. Em suma, acaba sendo uma questão de tentar ser amigo do tempo, de vezes não ligar para o tédio que tenta, muitas vezes bate, rebate nos meus passos solitários de uma semana tranqüila. Um ciclo se fecha e outro se abre. Um produto é desfeito e outro é comprado. Mas, poucos entendem a beleza de uma tarde de sol. Do dia que se encerra, da madrugada que aguarda a sua vez, horas antes, enquanto a arquitetura tentava ser onipresente nas nossas vidas, na claridade de uma praça escondida sorrisos inocentes eram dados. Não saiu nos jornais. Nem eu mesmo vi. Muitas também não viram, mas também não me escondi e uma janela que se esconde do sol não pode ser levada a sério, não há ar condicionado que tire o brilho de uma segunda feira ensolarada gritando sobre nós. Agora, imagine durante as horas presas na sua janela de concreto, quantos sentimentos ao ar livre não foram anunciadas. E você, julgando ser interessante por saber qual será a sua próxima aquisição desliga o cérebro para isso. Quem está indiferente aos recursos naturais também não pode ser levado a sério, a preferência  é ouvir o barulho do código de barra sendo lido. Eu não, poderia viver pra sempre numa tarde de sol.

Qual é a moral da história?



Tenho um visinho que pensa em sexo 19 horas por dia.

Não bastando o ocorrido, outra vez no pronto socorro, na primeira hora do dia foi avisado pelo medico que estava sobre suspeita de anemia. Cabra porreta, esse meu visinho, não é mesmo, entristece e vezes esquece do próprio paladar e o mau trato de sua mão ao nós cumprimentar, entrega que és um soldado de prontidão, pronto para estar em jejum se precisar. 

Vigia dos decotes alheios. Sobrevivente das madrugadas recentes. Um legítimo sacana aposentado.

Por meio do seu mérito trabalhado já conheceu o alfabeto inteiro, vejam que até com a letra y, a assanhada adotada pelo nosso idioma, o cretino teve já seus gracejos.

Nelson Rodrigues, que nada, um sacerdote comparado ao meu visinho anônimo.

Feito aqueles defensores que assistimos nos filmes hollywoodianos, reverto a breve prosa e digo antes da sua leitura vulgar e moralista a inocência do meu visinho, argumento como defesa, que a sua sacanagem se restringe à privada, portanto, cada um que limpe a sua.

Antes mesmo de classificarem a tiração de sarro como bullying, os produtos vendidos relacionados ao tema não passavam de pó enquanto o meu visinho sentia o peso de suas orelhas achatadas e sua ausência de fala, em pleno ambiente ditatorial em que o sexo cedeu espaço para o medo e a sacanagem ficou escondida na gaveta, aguardando a liberdade abri-la.

Labuta amigo, em dias difíceis meu visinho não atravessou a rua, permaneceu na mesma calçada, alcançado dias cibernéticos. Dias, que segundo o próprio são vazios e responsáveis por aflorar a sacanagem de outrora contida. Relaxa meu visinho, amigo, batalhe pelo seu orgasmo de cada dia, esqueça do passado, do presente tardio e futuro distante e morra ereto, feito um vigilante que tu és.


Inquietos, 2011, EUA - A Pele que Habito, 2011, Espanha

“O que os filmes “Inquietos” e “A pele que habito” tem em comum? Há não ser pelo fato que assisti ambos no mesmo dia. Aparentemente não são produções que demonstram semelhanças, no entanto, se formos aos bastidores da questão encontraremos a competência de seus diretores, tanto Gus Vant Sant quanto Pedro Almodóvar são criadores de um cinema que mostra em sua gênese a qualidade, o que conseqüentemente instiga o seu público. Duas histórias que certamente não sairão da minha mente por muito tempo.

Se Inquietos utiliza-se do silêncio ao seu favor, A pele que habito grita em nossos ouvidos quase que a película inteira, como se quisesse nos acordar de um sono profundo. Porém, ambos penetram nossos interiores com questões a se pensar pós seção, seja as nuances que beiram ao magistral de uma simples troca de olhares do filme de Gus ou os momentos de tensão da história de Almodóvar, digna a salvas de palmas, que se estivesse vido o mestre do suspense Hitchcock certamente daria ao seu colega de profissão. Observando rapidamente, uma obra ensina para não se perder tempo, que cada hora vivida pode ser preciosa em nossas vidas e a outra coloca em cheque a importância real da nossa estética, da nossa sexualidade, se somos assim porque temos a nossa imagem ou indefere, se fossemos quem não somos o que nos guiaria? Séria a nossa alma? Eu sei, você já viu ou leu esses temas em outros lugares, publicações e etc, entretanto, permita-se, ser levado a essas duas histórias singulares e marcantes. Sua mente vai agradecer.

Costumo dizer que quando uma manifestação artística é generosa e ensina o seu espectador, nesse caso o cinema, as imagens que são transmitidas já dizem por si só, não vai haver palavra suficiente que irá aproximar da magnitude vista. Com os recursos técnicos impecáveis, universos que tiram o espectador da cadeira e literalmente o teletransporta, trilhas sonoras, oras cativante, oras densa e que estão amarradas perfeitamente com a excelência das cenas, as duas produções precisam ser vistas e celebradas. Também vale ressaltar as atuações soberbas de Mia Wasikowska como Anabel em Inquietos e Antonio Banderas como Richard Ledgard em a Pele que habito. Do mais, é só ir ao cinema e garantir a experiência.


O novo Rap Nacional

A lembrança percorre os meses anteriores para apurar qual assunto foi recorrente na pauta cultural nesse ano que chega ao seu final, contrariando o seu passado de isolamento, o rap nacional através de novos artistas conseguiu atingir constantemente as páginas de diversos veículos.

No entanto, a direção nem sempre andou para esse lado, o diagnóstico era outro, o distanciamento a mídia pautava o percurso do gênero musical, que passou a década passada sendo sinônimo de marginalidade. Na linha de frente, Os Racionais Mc´s conseguiu a sua notoriedade sem apelo midiático algum, através dos próprios fãs que disseminavam e cantavam suas músicas aos quatro cantos da cidade. Além do grupo hegemônico, outros nomes se prendiam dentro do nicho, abrindo exceções a poucos veículos, tornando muita qualidade quase invisível, conseqüentemente descriminalizada. 

Ensaiando remodelar o muro de isolamento, nos meados de 2000 surge Sabotage, morto em 2003, mas que através de seu carisma aproximou outras musicalidades ao rap, já preparando, mesmo inconscientemente o cenário para a atualidade.

Há exemplo do rapper paulistano aparecia aos ouvidos da maioria casos como Mv Bill e Rappin' Hood, entretanto faziam parte de uma minoria, sem o poder midiático necessário para redistribuir outros exemplos.

E a atualidade mostra o contrário, o rap nacional alcançou a auto-estima e vem quebrando o paradigma que enfrenta durante anos. Artistas da nova geração caminham construindo novos versos que não se limitam a questão social, temas impensáveis em outrora e que saem de suas rimas agora, como o amor, a vida e amizade fazem parte de um novo repertório que visa consolidar-se na música brasileira.



A dupla principal dessa empreitada, Criolo e Emicida, literalmente invadiram os noticiários esse ano, ambos protagonizaram publicações e foram capa de uma considerável revista nacional, participaram e foram entrevistados em diversos programas da televisão, semanalmente eram lembrados em notas nos veículos impressos e se não basta-se o burburinho acabaram premiados nos principais prêmios da música popular brasileira. Definitivamente são os rostos desse novo momento do gênero, porém a luz do túnel não acaba com eles, outros artistas começam a ganhar espaço midiático , destaques para Rodrigo Ogi, Lurdes da Luz, Flora Mattos, Flavio Renegado, Projota, Rashid, Karol Conká, Rael da Rima e Pentágono.

Se antes a logística dos shows era feita para os espaços periféricos, atualmente ocorrem muitas apresentações em casas tradicionais do centro da cidade, como o Studio SP localizado na Rua Augusta, o que ocasionou a popularização das músicas, porém, convenhamos que o gênero ainda manifesta em boa parte da sociedade o preconceito, em compensação as conquistas estão se consolidando para rebater a desconfiança.

Alguns consumidores de música dizem que o motivo principal para ter ocorrido à mudança foi por conta do advento da internet, um agente determinante na vida artística da nova geração, sem as ferramentas virtuais o gênero estaria fadado ao afastamento de sempre. O que de certa forma é verdade, em contra partida a mentalidade do novo rapper se modificou, o pensamento que culmina é a liberdade que a música emprega, sem restrições, ou seja, um direito social.

Parecido com um garoto que enfrentou o medo e alcançou as suas primeiras pedaladas em uma bicicleta, o rap abandonou a sua zona de conforto e deseja alcançar voos maiores.

Um mergulho no concreto


Dias passam sem ao menos darmos conta do ponteiro. Doenças apagam o sol da nossa motivação que julgamos ter sido uma comprovação de que podemos mudar o tédio. Não podemos. O marasmo padece no percurso como pedras são encontradas no asfalto desgastado por andares tristes que constroem uma semana. Solitário não sou eu que sei muito bem o quanto meus passos não querem seguir o previsível, vazios são vocês que enxergam no automóvel o mesmo valor de um sorriso sincero que surge desprendido de cifras. Como poderei ser alguém que conquista e deseja estar imune do tédio?  Há frente de uma realização vem o despertador que tocando na manhã seguinte chamando para respirar outras conquistas, no meio dessa ordem chega o “buraco” vagarosamente insistindo que é preciso conquistar outras coisas, entristecendo a nossa existência. Seja o que for, faça o que tiver que fazer, porém a primeira ordem é fugir do tédio, gastar sem precisar, evitar a si mesmo, ser engrenagem da vitoria. Como posso relaxar se nós sabotamos a si mesmo querendo ser o vencedor a toda vez quando passamos a chave na fechadura da onde habitamos? O tempo corre. Não corro, vivo a vida antes de tudo por acreditar na poesia de quando acordamos. Se ganhar impõe vitorias infinitas, prefiro dançar ao lado do quem nem sei o que seja, mas que faz repensar nas coisas que você julgou ter sido verdade, que na preguiça colocou o cérebro pra deitar sem averiguar a verdade do boato. 



Sobre passos de silêncio



Em direção ao trem dei conta que são os objetos e as paisagens as únicas a testemunhar a nossa transformação. O mesmo muro de quando passamos, observa a gente em diferentes formas no tempo, esboçando diversas tonalidades de humor. O silêncio que incomoda, torna-se o elo perfeito para alcançar a nossa existência. Fugir da inércia do pensamento rotineiro é necessário, se não viramos parasitas do relógio. Hoje, vejo que não sou o mesmo de outrora. Obrigado universo.

35ª Amostra de Cinema de São Paulo


Shocking Blue, Holanda, 2010

Há principio ao ler a sinopse podemos imaginar que se trata de mais uma história sobre adolescente com apenas uma diferença das demais, dessa vez é vista sobre o panorama Holandês (país realizador). No entanto, Skocking Blue tem a dose necessária de poesia, eficiência cinematográfica e realidade que desarma o telespectador, aproximando-o da atmosfera e ainda conseguindo causar uma identificação com as imagens transmitidas pela tela, isso indefere da nacionalidade. A trama que passa nos campos holandeses acontece a todo instante no asfalto de São Paulo, nas luzes de Paris, nas megalópoles americanas ou na agitada Tóquio, ocorre nos quatro cantos do planeta, porque é uma circunstância natural do adolescente. Circunstâncias pautadas pela insegurança, por sua vez, o que pode influenciar a fase adulta. E os elementos cinematográficos escolhidos para abordar esse tema desgastado e nem sempre debatido com embasamento foram e são o diferencial dessa trama em relação às outras. A narrativa acompanha o amadurecimento do seu protagonista William através de uma vida relativamente pacata entrando em conflito a partir de inúmeros acontecimentos, a fotografia colorida deixa claro o campo de possibilidades dos adolescentes da região através do plano amplo da plantação de tulipas, além de dizer nas entrelinhas que adolescentes são como flores que precisam ser regadas diariamente. Mas a obra pode ser passada por outras releituras, vai além, mostra por meio de uma cena incrível a necessidade da troca e do encontro de dois seres remetendo ao cruzamento de duas distintas flores. No final das contas não há restrições, quando a obra é competente ela viaja em diferentes formas e jeitos, porém é preciso deixar claro que antes das palavras a obra mostrada na tela já diz por si só, causando uma grande experiência para o espectador. Para encerrar vale ressaltar a combinação de uma trilha sonora esperta e atuações naturais fazendo da produção um registro a ser mostrado e estudando a quem possa interessar.

 Mentiras Sinceras, Brasil, 2011

Trata-se da metalinguagem sendo aplicada literalmente, onde o teatro e o cinema trabalham juntos, usam o mesmo espaço, oras se confundem, mas conseguem desenvolver um relato instigante que possa interessar aos consumidores de teatro. Já que apesar de usar o espaço cinematográfico a produção segue uma linha documental que registra a preparação de uma peça teatral chamada Mente Mentira, escrita pelo dramaturgo norte-americano Sam Shepard, reunindo um grande elenco composto por Malvino Salvador, Fernanda Machado, Keli Freitas, Zé Carlos Machado, Roza Groubman, Marcos Martins, Malu Valle, Augusto Zacchi e Thiago Fragoso. O interessante da trama não é só o registro da montagem teatral, mas a temática em si passeando aos quatro cantos da narrativa, abrindo espaço para o quase eterno conflito entre a realidade e ficção que se misturam na pré montagem, nos ensaios, nos depoimentos dos atores, na convivência, levando nosso cérebro a fritar com tanta informação disponibilizada. Porém, o longa metragem ainda funciona mais como um documento registrado de uma peça teatral. Para nós, o público significou entrar na intimidade de uma pré-concepção aplicada no palco.

 Periferic, Romênia, 2010

Ao assistir Periferic aumentei a certeza que a distância é o único argumento que nos difere de outras sociedades, em contra partida sabemos que existem culturas e costumes que guiam o andamento de um povo. Porém se formos fazer uma análise seca veríamos que problemas são todos iguais independentes do território. Esse filme romeno nos leva a uma viagem nas degradações humanas, mas calma, tem o seu fim marcado. Matilda, mulher que, com metade de sua sentença de prisão cumprida, ganha um indulto temporário de 24 horas, na hora de sua saída em diante, a trama ganha fôlego e é pontuada de acordo com as horas que se passam e com o reencontro da protagonista com os três pontos chaves da narração, o seu irmão Andrei, seu ex-namorado Paul e seu filho Toma. Um recurso que vale apena destacar no roteiro é a história ter a profundidade necessária para atrair o público, antes mesmo que ela se inicie, causando e dando poder para o espectador montar o próprio passado da protagonista. Seguindo uma linha real, os atores roubam a cena, rendendo ótimas passagens, um excelente grupo de elenco que direciona as nossas expectativas diante da obra. A forma da condução técnica da produção é aquela tradicional já conhecida em histórias intimistas, a câmera na mão, os planos oras longos, oras close, a fotografia cinzenta aproximando da atmosfera sombria e dramática da história. Mas se tivesse algo a ser elogiado em termos técnicos diria que a montagem rápida (ligeira) e contemporânea dialoga muito bem com a modernidade cinematográfica e talvez seja um dos pontos altos da fita. O diretor Bogdan George Apetri mostrou para seção onde estava que somos (o mundo) mais semelhantes do que parece. 

Namorada, EUA, 2011

Típica produção independente que parece ter sido feita especialmente para integrar festivais de cinema mundo a fora. Com uma gênese alternativa (entendem-se recursos modestos) tão latente que conseguimos notar tamanho espírito nos quatro cantos do longa metragem. Para quem consome o gênero, como este que escreve é um ótimo aperitivo.  Conversando com um amigo, momentos antes da sessão, estive deparado a uma questão colocada pelo próprio que dizia que a história poderia ser muito apelativa por conta de o protagonista ter síndrome de down. Na hora, não obtive a resposta interna para a dúvida, podia ser um elemento funcionando como engrenagem com intuito de atrair o público para uma zona de conforto sentimental, levando-nos para uma falsa percepção. Já dentro da sala: enxerguei a dimensão da realização social que essa produção cinematográfica alcançou através da escolha de um protagonista representando a classe dos portadores da síndrome de down, já não importava qualquer coisa que não assemelhasse a sensibilidade transmitida na tela. Existem certos objetos que merecem ser analisados com outro viés, principalmente quando a generosidade é o fio condutor do seu percurso. No entanto precisam ser pontuados alguns deslizes ao longo da trama, poucos no seu decorrer, mas que não deixem de se percebidos, caso dos cortes que são equivocados em algumas ocasiões, também o roteiro mostrando alguns vazios e clichês no desenrolar da trama. Em compensação como sublinhado acima a atmosfera sensível beirando a inocência e o sorriso sincero do protagonista direcionam o nosso olhar que mostra ser impossível não se emocionar com as cenas em que Evan demonstra o seu sentimento por Candy. Sentimentos por sua vez que guiam o clímax da trama e resulta numa incrível noção de humanidade por parte de nós, o público.



O Palhaço, 2011, Brasil


Uma aula de compartilhamento

Sábio foi quem disse que a infância é a melhor fase do percurso de um ser humano, cá pra nós precisa ser reverenciado o sujeito que disse tamanha verdade. Quando somos crianças temos a ingenuidade de querer avançar os números para nos tornarmos criaturas horripilantes e mesquinhas, que no caso são os adultos. Só depois que crescemos vemos que sentimento assim foi perda de tempo e que o mesmo segue em frente e não volta mais. Vai ver que seja o motivo que me faça contar nos dedos as vezes que pisei no circo. Sempre tive a impressão que o mundo circense estivesse ligado diretamente ao universo das crianças, só que a gente é tão restrito há bobagens insignificantes que deixamos de aproveitar o que a vida tem de melhor a oferecer.

Não seja por isso, como dito, conto nos dedos os dias que pisei no circo e vendo o filme, O Palhaço, do ator e cineasta Selton Mello fui levado a sensações guardadas no passado. Com direito a pipoca e refrigerante e o picadeiro há alguns metros de distância dos olhos, não só acompanhei novamente o espetáculo, como fiz parte da trupe, saindo de turnê com os personagens mais exóticos do imaginário popular.

Selton Mello volta o avesso de sua primeira experiência como diretor, regado de uma leveza necessária e esperta para alcançar o grande público e também mostrando o outro lado do universo sombrio de Feliz Natal com uma fotografia colorida que através dos olhos dos cortadores de cana na primeira tomada avisa que está acessível e não veio sozinho.

O criador pega emprestado o fato recente de seu próprio descontentamento profissional para compartilhar de fundo ao seu personagem BenjamimPalhaço Pangaré, interpretado por ele mesmo, que está sofrendo uma crise de identidade afetando a sua profissão de palhaço. Em paralelo, conhecemos um pouco da rotina da trupe esperança dirigida pelo pai e também palhaço Valdemar Puro Sangue (Paulo Jose) que fazem breves passagens no interior do país.

Entretanto, engano de quem acha que não ira encontrar nenhuma semelhança na fita nova da atmosfera pessimista do primeiro longa metragem , a melancolia vem camuflada nos risos fáceis, sendo mais evidente na quebra de ritmo consciente do sorriso no semblante dentro do picadeiro para a angústia do mesmo nos bastidores. 

Quando notamos que o mesmo protagonista que domina com maestria os risos do seu espectador não consegue sustentar meia hora de diálogo fora do palco, vemos que a trama tem uma função além de nos tirar risadas. Através de dois pontos importantes da narrativa conseguimos não só sentir as dúvidas de Benjamim como transferir para nós, o mesmo dilema de quem sou? E qual é o meu verdadeiro dom?

Pontos narrativos, sendo um deles a personagem de Guilhermina (Larissa Manoela) funcionando como a pessoa que garantiu o ingresso e está acompanhando a história da cadeira do cinema, testemunhando em silêncio cada desdobramento das cenas e o outro ponto é o sonho de consumo do protagonista que é o ventilador, creio eu, que seja livre e possa encaixar-se em diferentes interpretações, a meu ver serve como uma espécie de antagonista florescendo através da vontade material do personagem de possuí-lo, podendo abrir outras portas há não ser o de palhaço. Um futuro aberto, que se fecha quando enfim consegue consumir o seu desejo e enxerga que mesmo com ele pode ser quem sempre foi.

Ao longo do percurso quem agradece é o publico que é presenteado com as diversas participações especiais, garantindo o riso frouxo e sincero da nossa parte, participações que surgem com os nomes de Jorge Loredo (o Zé Bonitinho), Ferrugem, Emilio Orciolo Neto (o melhor momento), Jackson Antunes, Fabiana Karla, Tonico Pereira, Dalton Melo e Moacir Franco (outro momento que merece destaque).

Enfim: O palhaço tem o requinte do cinema francês com toques sutis e trilha sonora usada como agente determinante para as emoções dos atores, o pastelão italiano para trazer o lado cômico da fita e a dose certa de malicia brega e o cenário rural digno e que particularmente remeteu os saudosos filmes dos trapalhões. A história bebe na fonte de muita produção boa por ai mundo dentro e a fora.

Com tantos pontos a favor o que chama atenção, pelo menos a mim chamou, foi à competência do roteiro, a sensibilidade das palavras trazendo a objetividade do desenvolvimento, tudo mostrado sem nenhum rodeio e ainda reservando muita lenha pra queimar nas entrelinhas, com indagações ala Tarantino, principalmente no diálogo dito pelo personagem do Moacir Franco que deixou claro a escrita excelente de Selton e o futuro brilhante de sua carreira (a frente das câmeras).

Para reforçar: boa parte da simpatia da produção foi causa do elenco brilhante, escolhido a dedo. Mas devo dizer que nem os irmãos Mello contracenando juntos e nem Moacir Franco com solo espetacular tiram o brilho da interpretação de Paulo Jose, que longe da sua melhor forma, devido problemas de saúde contínua firme e ainda consegue ser autêntico no seu exercício de profissão, ensinando, emocionando e rendendo o melhor momento do filme pra esse que escreve. Sua habilidade de seguir por outro lado nas resoluções de problemas em uma cena que a principio se dariam da forma tradicional aos nossos olhos, mas que realizados de sua forma singular consegue ganhar mais força e sem dúvidas nos fazem pensar bem mais.  Ver esse cara atuando em qualquer frente da arte não tem preço, tenho certeza disso.

Por fim: sabemos da ordem natural da vida e podemos tirar muito proveito da ficção que acabamos de assistir, gerando reflexão para aplicarmos em nossas próprias vidas.

Obrigado Selton Mello, seu dom e sua necessidade artística nos fazem crer em nossos próprios sonhos.


É sobre sumir!

Os pensamentos ficam girando o tempo inteiro. Hoje só preciso desacreditar no espelho. Talvez desapareça no vento e acorde em outro instante, longe do tempo que hábito. Nó na imensidão das coisas é parar o momento. Preciso respirar e desacelerar a minha existência, fazer de segunda feira um domingo, fazer da semana um feriado com fim marcado. Comprar pipoca, mortadela, hambúrguer, sumir da vista, morrer instantes. Não tem haver com depressão, está com jeito de necessidade de ser coadjuvante do descanso. As palavras que saem da mente para a tela do computador são palavras definidas, remodeladas, companheiras desse instante. E nada é mais nada que esse instante, só é intervalo da existência. A tristeza não chegou, foi só silêncio batendo na porta, entrando pra dentro, observando, reparando as coisas no seu devido lugar. Não digo sempre, mas tem dias que é preciso parar de sonhar, a nossa mente merece dormir. Ficar branca como o silêncio, se renovar como o sol.

Meu País, Brasil, 2011

Muitas vezes nos sentimos estrangeiros em determinadas circunstâncias, acredito que seja um rito necessário na vida, sem exceção a ninguém, temos conflitos e necessitamos do afastamento do que fomos e conseqüentemente não somos mais, porém guardamos a certeza de que cedo ou tarde deveremos revisitar nossas lembranças. Há princípio a obra do cineasta Andre Ristum traz essa abordagem, só que o filme dá tanto pano pra maga, que vai além, rendendo uma história instigante.

De antemão, se tivesse que definir com um adjetivo ao longa metragem, certamente viria a mente a palavra lealdade, principalmente a realidade, não existe sobrecarga dramática e muito menos invenções, tudo mostrado na tela é na medida, deve ser por isso que a cada tomada nova nos sentimos retratados.

Na trama conhecemos uma típica família desestruturada da classe média alta paulistana, que acabará de perder o seu patriarca, Armado (Paulo José), o que torna viável e primordial a vinda do seu filho Marcos (Rodrigo Santoro) ao país, um empresário estruturado na Itália, que é casado com a italiana (Anita Caprioli).

Ao retornar a sua origem, Marcos precisa reestruturar alguns assuntos pendentes da família, no entanto começa a enxergar a complexidade de cada um deles, como o vício por jogos de carta do seu irmão mais novo, Thiago (Cauã Reymond) e a descoberta da existência de Manoela (Débora Falabella) uma irmã por parte de pai que sofre por problemas mentais. A sua passagem que a princípio seria rápida, precisa ser estendida por conta desses problemas.

Nesse momento, o fio condutor da trama é o próprio reencontro, há todo momento é mostrado pelas ações do protagonista ou pelas tomadas dos objetos que remetem uma outrora. Uma câmera inquieta e detalhista que através dos espaços redescobre suas raízes.

Entretanto, através do bom roteiro a câmera descansa e cede espaço para outras pequenas e rápidas sub-tramas que surgem ao longo do percurso, como a conversa passageira, porém primordial entre a esposa de Marcos e o seu irmão Thiago, onde entendemos a personalidade distante do protagonista e as lacunas evidentes de sua esposa. Também podemos inserir a fragilidade quase infantil de Manoela, garota que está na trama como o ponto narrativo que vai guiar o equilíbrio daquela família. Já o personagem Thiago se mostra igualmente frágil e dependente de uma referência mais velha para guiar o seu caminho, em suma seu despreparo para vida e desconsolo por não ter opção e sozinho ter que se tornar o que não quer.

A montagem da forma mais adequada possível concede incríveis lacunas de silêncio, funcionando para o expectador com um quebra cabeça sendo montando no seu tempo e na sua devida hora. Na fotografia vemos o retrato fiel de uma São Paulo cinza que se equivale a errônea vida do protagonista, que se mostra indiferente beirando a passividade ao resolver os seus problemas e encarar as suas mágoas que causaram a fuga de um passado que não se orgulha de ter, o que no começo da trama, também vemos uma Itália escura dialogando diretamente com a sua necessidade de mudança, por isso vemos o contraste branco da clinica, no qual Manoela está internada, servindo e sendo um gritante retrato de esperança sobre sua vida, através do branco vemos o quanto é importante a presença de sua irmã para o desdobramento de sua existência. No entanto o branco da clinica não permanece sozinho como o ponto crucial do desdobramento do protagonista, a todo instante se divide com o azul do mar, o que nos torna a crer que na praia ocorreu um dos poucos momentos de felicidade daquela família.

O Tema pode ser até batido, porém sempre quando uma produção mostrar os relacionamentos humanos como a sua válvula central vou estar presente para assistir. E uma das vertentes que mais agrada no cinema é essa, a realidade se confundido com a arte e vice versa. Desde que assisti o trailer do filme tive a certeza que seria uma excelente história, difícil errar também, quando se tem no elenco tanta genialidade reunida. O cinema brasileiro pode sentar e relaxar que a cada lançamento novo vem mostrando qualidade e autenticidade. 


Capitães de Areia, 2011, Brasil


O que guardo na recordação referente a obra de Jorge Amado, Capitães de Areia, são as inúmeras forma de sabotar a leitura na época do colégio, uma ação da minha parte justificada quando recordo a escassez de motivação não recebida pelo ensino brasileiro, que cá pra nós, sem novidade nenhuma, sabemos que é precário.

Imagine o cenário: garoto entupido de propaganda televisiva, vivenciando uma época política que favorecia o esquecimento da educação, arbitrada pelos tucanos do PSDB, que entre suas manobras elitistas, danificou a estrutura educacional da cidade, concedendo a aprovação direta a todos os alunos da rede pública, cadenciando uma boa parte da criminalidade atual. Escrevo com o domínio e experiência ao redor sobre o assunto. Alias esse não é o fator determinante para nossa educação ser como ela é, são diversos e péssimos exemplos que constroem o grotesco ensino público de âmbito nacional.

Desabafos a parte da privação de uma obra extraordinária como essa, fui salvo novamente pela sétima arte, se outrora o passado deu uma rasteira impedindo de conhecer a história da trupe de Pedro Bala, o presente trouxe, se não uma leitura perfeita, no entanto um bonito retrato e por que não uma prévia de uma leitura instigante que me espera. Assistindo o filme, Capitães de Areia, dirigido pela neta do autor, Cecília Amado e cineasta Guy Gonçalves, enxerguei a importância da obra não só no campo literário como nas artes em gerais. Sem falar que nada mais justo que um presente dessa magnitude chegar aos cinemas para comemorar o centenário do autor.

É preciso cuidado no relato (principalmente de omitir uma opinião, seja o poder da sua veiculação), portanto, dessa forma reitero que a adaptação da obra escrita para a tela do cinema não é perfeita, motivos para isso são previsíveis até, o primeiro podemos revisitar na história, se formos atentos, a maioria das adaptações pecam pela falta de tempo e a necessidade de urgência de sintaxe, causando a exclusão de alguns detalhes da obra original, já em segundo lugar, a minha afirmação ocorre devido os tropeços que são repetidamente feitos pela cinematografia nacional, que em contra partida segue progredido a cada trabalho novo realizado.

Porém, esses pequenos deslizes chegam a incomodar raras exceções, como esse que vos escreve, ao decorrer do longa metragem o expectador enfrenta uma aceleração, logo um descuido no roteiro que vezes coloca a perder uma história que teria tudo para ser uma excelente narração. Desdobramentos ocasionados de repente sem aviso prévio que causam problemas nas continuações visitam o longa metragem em algumas partes. Particularmente, a trama segue uma linha não qual me agrada pouco que é a ausência de pontos chaves que poderiam dar um charme a mais ao filme, ou seja, em momentos da narração, temos o pré clímax e em seguida somos atingidos por uma cena pós clímax, quer dizer, o próprio clímax fica por conta da nossa imaginação.

Deixando pequenos ruídos de lado, enxergamos uma bela e divertida adaptação, conseguimos entrar na tela como um integrante ausente da turma de Pedro Bala, os Capitães de Areia, vemos suas realizações, vezes sentimos o mesmo ódio que a trupe sente e outras, sentimos alheio há tudo relatado, porém, além da torcida pelo final feliz de todos, inclusive do casal Dora e Pedro, o charme a parte da trama, voltamos a ser criança no momento mais bonito da produção, no qual regado à inspiradora canção de Arnaldo Antunes, Contato Imediato, damos uma volta em um carrossel junto com a trupe, representando uma forte simbologia de sonhos que estão decisivos entre continuarem estáticos ou se transformarem em possibilidades concretas de um futuro melhor. Essa cena faz um link direto no final, quando sabemos de fato o destino de cada personagem.

Outro destaque é a cultura baiana empregada em cada tomada, fala, riso e choro, um desenvolvimento autêntico que poderia ser jogado ao estereótipo, a linha tênue que divide esses dois lados foi respeitada, a começar com a escolha de atores desconhecidos e regionais, seguindo pela cultura baiana á todo momento sendo mostrada e para fechar com a chave de ouro, a atmosfera baiana conseguiu contaminar a gente (público) e resultou em uma produção leve e espirituosa.

A cinematografia brasileira está a todo vapor, apesar de pecar em pequenos passos, a caminhada segue linda. Capitães de Areia foi uma boa surpresa, rendendo ótimas horas de diversão e o mais importante, a certeza que em vida preciso ler esse livro.

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