Profissão: Verme Que Faz Peso Na Terra

Descendo a ladeira a milhão e aproveitando para estrear meu tênis novo no chão, comprado no Sábadão, no shopping center a prestação, mó carão, o preço não importa, to felizão, me sinto bem, rumo à correria diária, como sempre. Passo no bar do Moreira e comprimento a rapaziada, encontro o Martinez, “o largato da quebrada”, que da entrada da parada me intima da cabeça aos pés, sigo pra perto dele, após o comprimento ele me solta: Tênis novo Heim Neguim, ta Playba pra caraio. Respondo por cima: Quem trabalha tem as coisas né mano! Ele intervém e faz um pedido: Sei lá, ae neguim, me solta um cigarro ai? Olho pro bolso, pego o cigarro, forneço na mão dele, falo nada, vou embora, ele fica sempre, no longe eu escuto: Vai lá peão, trampa pra nois, palavras ditas pelo largato da quebrada.

Abro a janela, grito pro Roger esperar, comprimento minha mãe, ela pedi para não demorar, ter cuidado e chegar cedo. Abro o portão, entro no carro do Roger, o comprimento, ele liga o som, depois o abaixa e mostra a prata nova que ele comprou. No caminho da balada só sabe falar de marca e status. Estaciona o carro e andamos alguns segundos até chegar o role, seguimos para a fila, eu de boné e calça de skate, sou motivo de chacota pra ele, que exclama sem pensar e mete que isso ele ta longe de se tornar, que eu tinha que virar gente e por isso iria catar mais mina do que eu, olho pra ele, sorrio timidamente, olho de novo, vejo um verme, sem nada na mente, preso dentro do seu próprio casulo, desfigurado, com um colar de prata transparecendo toda idiotice do mundo reunida numa só pessoa. Perco um amigo, na noite ele beija mais, na vida ele faz peso na terra.

Voltando do trampo, rumo a goma, caminhando na passarela, estaciono num quiosque e bebo um refresco, desço a escada, o trem chegou, entro nele, lotado, pessoas humildes, todos cansados, aglomerados, segue adiante, para em uma estação, alguns descem, outros entram, um menor com os amigos encostam perto de mim, todos uniformizados, um deles pega do bolso um celular, liga, alto-falante no talo, não importa se é funk, as pessoas aglomeradas respiram, exalam cansaço e estresse pela musica ao lado e os menores gritando além da conta, no fundo um funk servindo de trilha da volta. Desço, respiro, caminho, rumo à goma, trombo o Martinez, “largato da quebrada”, dormindo, encostado na porta do buteco do Moreira fechado. Sigo em frente.

A caminho de casa no carro do Roger, escuto suas glorificações pela noite passada, ele não cansa, fala e fala, fica com raiva, porque demonstro que suas palavras são indiferentes, da risada forçada e termina emendando que no dia que eu parar com essa viagem, eu cataria mina igual ele. Sem falar, penso que a unica viagem que eu quero terminar, é aquela, é chegar logo em casa. Saio do carro, o comprimento de longe, enquanto ele continua se glorificando e achando que estou com inveja dele.

Os parágrafos descritos acima são apenas personagens fictícios, no entanto as ações são reais, recorrentes a todo instante. Em cada esquina da onde moramos, existe um verme, sem restrições da classe social, seja na leste ou na sul, em qualquer zona sempre nos deparamos com um. Alienação, inveja, preguiça, são sentimentos predominantes de um verme. Então, lembre-se todo cuidado é pouco. 

Cabra-Cega



Em ano eleitoral, vale apena assistir Cabra-Cega, para conhecer ou relembrar uma parte negra da história brasileira.

Logo acima do nome do titulo vemos exposto na capa do filme uma frase de impacto: na ditadura, abrir os olhos era mais que uma brincadeira. Cabra-Cega aplica esse termo durante uma hora e meia.

O pano de fundo da historia é os anos 70, durante “Os Anos de Chumbo”, uma das épocas amargas da ditadura militar brasileira.

Na trama, Thiago (Leonardo Medeiros), é um militante, obrigado a ficar confinando dentro do apartamento de um simpatizante da causa, Pedro (Michel Bercovitch), devido um acidente ocorrido num confronto contra a polícia.

Durante seu exilo, Thiago permanece aos cuidados de Rosa (Débora Duboc), militante responsável por sua recuperação. Ambos mantidos financeiramente por Matheus (Jonas Bloch), um dirigente da organização, que trabalha do lado de fora para retornar a luta armada.

A privação da liberdade é o tema central da narrativa, torna-se o espelho do protagonista, uma contradição exposta em seu pensamento revolucionário. A luta pela liberdade, sem ter a liberdade.

Isolado no apartamento e impendido de sair a qualquer custo, ele vive sua própria luta armada mentalmente, exposta, por meio dos seus desvios e tormentos ocasionados pelo barulho externo e interno, o toque do telefone e da campainha atingem o subconsciente, criando lembranças do passado.

No presente o seu drama aumenta a cada instante, sem noticias de fora, sobra espaço para voltar a sentir sensações abandonadas pelo tempo. Como se apaixonar, fazer amigos e sentir o vento.

Por meio dos noticiários da televisão constata que o fim está próximo.

O diretor Toni Ventura e o roteirista Di Moretti, abordam outro lado da ditadura militar, ambos trazem a tona um problema recorrente aos militantes da época, a privação da liberdade 

Vale destacara a trilha sonora, reunindo variados sucessos da época, todas interpretadas pela cantora Fernanda Porto, com a participação de Chico Buarque em uma das faixas.

Cabra cega é uma produção nacional de baixo-orçamento, com um bom elenco, que vale apena ser visto.


Ficha Técnica:

Título Original: Cabra Cega
Gênero: Drama
Duração: 01 hrs 47 min
Estúdio: Olhar Imaginário
Direção: Toni Ventura
Roteiro: Di Moretti, baseado em argumento de Fernando Bonassi, Roberto Moreira e Victor Navas
Produção: Toni Ventura
Musica: Fernanda Porto
Fotografia: Adrian Cooper
Direção de Arte: Chico Andrade

Sobrenatural - Supernatural



Sobrenatural trata-se de uma saga no qual dois irmãos Dean Winchester e Sam Winchester caçam demônios e monstros sobrenaturais. No Brasil é transmitida pelo canal pago Warner Channel e pelo canal livre SBT. Os atores que protagonizam o seriado são Jared Padalecki e Jensen Ackles.

Comecei assistindo “Sobrenatural” embutido de todos os preconceitos vigentes possíveis, lembro ter acompanhando uma boa parte da primeira temporada com o ligeiro sentimento de estar perdendo tempo. Isso, porque, nos primeiros capítulos havia sido atingindo por um cansaço descritível, por conta da pouca vontade de comprar a idéia que historia passava.

Entretanto, ao longo da temporada a temática da serie foi mudando, novos personagens foram inseridos, é agora existia uma linha continua entre um capitulo e outro, o que particularmente agrada num seriado.

Após a segunda, veio a terceira temporada, a quarta e o ápice da quinta, todas consumidas em menos de dois meses, juntamente com a minha namorada. Nessa quinta temporada não houve capitulo ruim, algo, rotineiro nas outras antecessoras, porém, essa foi disparada a melhor temporada do seriado.

Se formos analisar a serie no todo, principalmente o roteiro, talvez exista lacunas expostas, deixando transparecer barrigas explicitas em muitos capítulos, determinando um cansaço em torno do seriado, no entanto, o entretenimento soube como alavancar o sucesso da trama.

Entender em que determinadas horas necessitamos fugir do real, para embarcamos no mundo fantástico, foi o fator principal para ter acompanhando o seriado e ter comprando a idéia. O que chama atenção na serie é as diversas citações que fazem menção a cultura pop norte-americana, por meio dos diálogos dos personagens sobra espaço para fazer uma piada com algum acontecimento histórico ou simplesmente fazer uma analogia de determinada situação lembrando-se de um filme.

Costumo ver ensinamentos de vida, onde muitas vezes não são enxergados por muitos, como por exemplo: no final da quinta temporada, consegui captar a mensagem, ou pelo menos identifiquei da minha forma. Desde o principio da temporada, todos os outros antagonistas em questão diziam o mesmo discurso em relação de como os protagonistas iriam acabar, é o desfecho final da serie, realmente se encerrou de certa parte como todos os antagonistas diziam, entretanto, de certa forma, houve uma força desconhecida por eles impendido do final ser encerrado como haviam previstos.

Bom, tudo isso para fazer a seguinte analogia, em nossa vida também existem antagonistas insistindo e trilhando os nossos caminhos, por serem atingidos por determinadas ações provocadas por nós e por trás delas ameaçam a divulgar o nosso pior lado, todavia, isso é rotineiro é nunca ira acabar, mas não é sinônimo de que algo de ruim ocorrera, num dialogo concreto, estou querendo dizer que não é porque você demonstra certas atitudes errôneas que acabara no fundo do poço, somente, nós sabemos o inferno que cada um vive, dentre essas formas expostas a todos, existem a verdadeira força escondida internamente, longe da visão dos outros, que será recorrente quando precisarmos. No caso da serie, foi demonstrado quando Dean estava morrendo por Sam, possuído por Lúcifer e um objeto remetendo o passado de ambos atingiu o consciente de Sam e o fez causar a morte de Lúcifer, através do seu próprio corpo. Clichê total, mas, nada que impeça e garanta boas doses de sentimentalismo e analogias malucas.  

No diagnostico final constato o seguinte: preenchi o meu tempo muito bem, acompanhando a historia dos irmãos Winchester, livre daquele sentimento impregnado no consciente, de ter perdido tempo com o puro entretenimento. É de antemão estou pronto para sexta temporada, GO GO !!!

O Pequeno Nicolau (filmes bons merecem ser vistos)


A nostalgia sintetiza “O Pequeno Nicolau”. O segundo filme de Laurent Tirard como diretor é baseado na obra infanto-juvenil “Le Petit Nicolas” criada em 1959, pelo escritor René Goscinny (co-autor de Asterix) e ilustrado por Jean-Jacques Sempé

Se Tirard havia ganhando destaque na indústria cinematográfica francesa por misturar o lado cômico com o romantismo, nesse lançamento, o diretor vai além e embarca numa produção infantil, criando o seu próprio universo.

 Apesar, de a projeção ter sido encomendada, o diretor consegue ser fantástico na direção do elenco infantil. Fator principal para a qualidade apresentada.

Na historia, entramos numa França antiga, especificamente dos anos 50. Nos primeiros minutos, por intermédio do protagonista, conhecemos o seu mundo e todos os personagens inseridos nele, todos citados de uma maneira que enfatize a sua característica.

Nicolau (Maxime Godart) é o responsável pela narração. Trata-se de um garoto que é filho único e segue numa vida confortável em segurança nas barras dos pais. Entretanto, um evento está prestas a ameaçar a tranqüilidade ate então, por influência de um amigo que acabara de ganhar um irmão, Nicolau começa acreditar que sua mãe esteja grávida e, isto signifique que será abandonado pelos pais. No intuito de resolver o problema, cria uma liga junto com os amigos.

Paralelo ao fio condutor, existem outras situações com os demais personagens, que determinam o ritmo do longa. Além de gerar os momentos mais engraçados da projeção.

No termino da seção, a nostalgia transpassa da tela para o público. Para quem cresceu doutrinado pelas produções infantis: A Guerra dos Botões, de Yves Robert (1962) e The Gonnies, de Richard Donner (1985), voltaram a ser crianças, nem que isso dure apenas uma hora e meia.

Após o termino, vim pensando cá com meus botões que essa produção teria apelo (abertura) suficiente para arrecadar bilheteria com o grande público, no entanto, passara despercebido para maioria. O que, para mim, particularmente é uma crueldade com a obra em questão. Como admirador de cinema e futuro realizador do mesmo, acho que o grande barato de se fazer cinema é conseguir atingir o maior público possível.

Não, compartilho com a idéia de que a obra deva escolher o seu público, deveria ocorrer o contrario, cinema pode sim alcançar um grau especifico de arte, podendo também gerar entretenimento e fornecendo um papel de educador. Qualidade exposta não só na produção comentada, como nos mais diversos filmes europeus que costumam durar semanas em cartaz.

Recentemente, assisti “O Profeta” de Jacques Audiard (2009), outra produção francesa, voltada para o público adulto, pois bem, no final da película, constatei que poderia facilmente ser consumido por outro público, além daqueles de um nicho especifico. Em duas horas e meia temos numa mesma historia, todos os artifícios usados para ser fazer uma historia de ação norte-americana, com muito mais conteúdo do que propriamente ação, porém as cenas de ações filmadas não devem nada a um blockbuster.

Todo esse Bla! Bla! pra concretizar que a produção “O pequeno Nicolau” traria sangue novo nesse mercado tão previsível, como o atual. Faria os pais re-descobrirem a inocência perdida no meio de tanto consumo e serviria de constatação para os filhos, de como é bom ser criança.

Prova de que toda criança deveria assistir o filme é o sucesso demonstrado pelo público infantil na exibição ocorrida na favela do Vidigal, no Rio de Janeiro, pelo festival Varilux do Cinema Francês, que contou com a presença do próprio diretor.


Trailer

·  título original:Le Petit Nicolas
·  gênero:Comédia
·  duração:01 hs 31 min
·  ano de lançamento:2009
·  direção: Laurent Tirard
·  roteiro:Alain Chabat, Laurent Tirard e Grégoire Vigneron, baseado em quadrinhos de René Goscinny e Sem 

O Profeta


Na última quinta assisti "O profeta", obra francesa, dirigida por Jacques Audiard, diretor conhecido pelo drama “De tanto bater meu coração parou” (2005). Lembro de ter saindo da sala do cinema perplexo e ao mesmo tempo animado por ter acompanhado duas horas e meia de puro cinema em todos os aspectos, uma verdadeira obra prima.

A trama começa quando Malik El Djebena (Tahar Rahim), 19 anos, prisioneiro com descendência árabe chega a uma prisão para cumprir a pena de seis anos, porém Malik encontra dificuldade em sobreviver, já que não tem nenhum conhecido que possa o defender. Visando a segurança ao decorrer dos dias é obrigado juntar-se a uma facção criminal, liderados por César Luciani (Niels Arestup).

Na película vemos o quanto o protagonista se modifica ao longo das cenas, somos convidados a acompanhar a sua mudança passo a passo. Desdobramentos marcam o roteiro, é um jogo de intrigas e suspense são jogados pela tela.

Além de muita ação conotando mais emoção á historia, que apesar das suas duas horas e meia é sinônimo de qualidade. O trabalho dos atores é soberbo, o protagonista interpretado por Tahar Rahim é formidável, sua atuação é digna de um Oscar, o mesmo pode ser dito para Nieles Arestup interpretando César Luciani.

O ritmo de causas e conseqüências marcam a montage, a trilha sonora entra em harmonia com  as cenas de  ação, acelerando o filme, destaque para uma cena primorosa de ação gravada nos momentos finais da trama, no qual inicia-se com uma trilha e depois o som é paralizado, simbolizando o momento de tensão do tiroteio que esta ocorrendo, ao decorrer do desfecho final, deixamos de ser espectadores para entrar por segundos na pele do protagonista, ou seja após o silencio apresentado anteriormente,  Malik perde a audição e o vazio, da lugar a uma incompreensão do barulho ao redor, signficado um efeito criado pelo diretor, é como se quem assistisse, estivesse tendo a mesma dificuldade de ouvir.

Uma pena a obra ser fechada para um nicho especifico, uma projeção assim deveria ser espalhada para diversos públicos, cinemão de qualidade única, produto que demonstra um nível inconcebível em termos de técnica, reflexão e autoral.

Para esse que escreve o melhor filme visto no ano e um dos melhores já vistos.

Toy Story 3



A franquia Toy Story volta às telas do cinema após dez anos do último longa. Com Lee Unkrich, um novo diretor na linha de frente da animação, a terceira aventura tem copias em formato 3-D.

Os brinquedos de Andy voltaram e o menino cresceu e esta a caminho da universidade, pra desespero dos brinquedos, que ficam sem saber o que ira acontecer com eles. No entanto Woody tenta convencê-los que o dono ainda sente carinhos por seus brinquedos, mas, pouco importa, quando na mentalidade deles o caminho do lixo é o mais provável.

Pensando em sair dessa possibilidade, eles infiltram-se na caixa que terá como destino a creche “sunshine”, sentido a sensação de serem úteis novamente. Ao longo da película muitas aventuras acontecem e lições de vida surgem no ar.

Á historia é massa. O fechamento da primeira animação realizada pela Walt Disney. Narrativa redondinha consegue prender atenção do expectador do começo ao fim. Não teria historia melhor para contar (O Andy grande e os brinquedos abandonados e sem uso).

Após a exibição só restou sentir um enorme saudosismo em relação à trama, fiquei imaginando a toda cena como cresci e como aqueles brinquedos também são importantes para mim, ou seja, me localizei na figura de Andy, crescido, pronto para vida ou pelo menos a vida pronta para mim, e os brinquedos podendo ser associados a uma imensidão de coisas que foram embora da minha vida, como colegas, costumes, manias e objetos. Coisas que hoje se demonstram desconhecidas e que já não fazem tanta importância, mas que um dia estava atuante no meu cotidiano é o tempo tratou de espalhá-los para outra direção, em um determinado momento da vida.

É isso, o filme me fez lembrar situações de dez anos atrás, de quando eu era apenas um menino com o tempo livre para brincar.

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