Tiê - Show de Lançamento do "A Coruja e o Coração", no Auditório Ibirapuera

Aviões espalhados no chão. Grandões e pequenos, todos de papeis, coloridos, e preenchendo o palco inteiro, do lado, instrumentos a mostra, sem uso (por enquanto). Primeira visão ao entrar no auditório do Ibirapuera para conferir o show do lançamento de “A coruja e o Coração”, segundo trabalho da cantora Tiê.


Devidamente sentado, platéia lotada, a banda entra: deitaaaaa, primeira palavra dita na musica “Na varada da Liz”- já de premissa a demonstração do novo estado, a voz baixinha, intimista, ganha força no tom, com a ajuda de uma banda por trás, consegue fazer qualquer admirador musical ficar gamado na “simplicidade” e na meiguice da canção.

Respira um pouco, em seguida, já emplaca “Dois”, – redundante dizer: é como se dissesse em seguida, não perdi a essência - “penso” - ta aqui o saudosismo do primeiro álbum ocorrendo, o ritmo ganha pequenas sonoridades, se encontra um pouquinho diferente do que ouvimos no “Sweet Jardim”, e é encantador da mesma forma.

Ela fala um pouco conosco (a platéia) que está rodeada de figuras ilustres, de Leandra Leal a Tulipa Ruiz, agradece a todos sem restrição, canta sua versão saliente, “Só sei dançar com você” acompanhado de um cello provoca pequenos passos em todos - tenho certeza, ninguém resiste a um convite pra dançar, o ritmo leve e tímido sempre se sagra vencedor.

Quando o espetáculo parecia seguir um padrão: com muitas musicas nova e algumas antigas, a banda sai do palco e ela, com seu produtor (Plínio Profeta) retomam a parceria de outrora e juntos, por meio de “Passarinho”, protagonizam o momento mais bonito do show: o portão de trás do auditório ao poucos, bem devagarinho dançando com a voz doce da cantora, nos confunde e por instantes, mente a mercê da vista, só vemos o portão abrindo aos poucos, a princípio parecia um telão ilustrando um jardim, de fato o jardim estava aparecendo e percebemos que era real, estávamos vendo o parque, um crepúsculo no jardim, por conta da noite, sem medo de se apagar no escuro, viramos pássaros, voamos com Tié. Arrepia só de lembrar. Mágico!

Ainda sim, temos de bandeja mais duas músicas ilustradas por esse cenário, no piano ela toca “Te Valorizo”.  Saio dali por instantes, vou longe, entro na melodia e faço meus próprios pensamentos, penso que tenho a sorte de estar ali. Outra magia!


Dividida entre canções e um mini show de “stand up”, Tié segue assim, agradecendo, contando piadinhas, dançando folk timidamente, esboçando sorrisos - aquela atmosfera faz lembrar brevemente das atrocidades recentes - sobressaio em mim, sinto o outro lado da moeda, o simples de se emocionar pelo pouco, pois é assim: numa noite de sexta, casa lotada, todos dispostos a receber a poesia musical, instrumentalmente perfeito, do coração e as corujas, talvez, seja nós, o publico que fica a observar, analogia tola? Não importa!

Quando os instrumentos falam as primeiras notas, uma sombra da coxia ensaia entrar, notamos uma inquietude nela, “Mapa Mundi” é tocada, nem na metade, a sombra vence e se torna Thiago Pethit , o autor da canção, entra para fazer o dueto.

Palmas e violão, Cello – “Você não vale nada” – constrangimento na platéia que curiosamente, estava consumindo um dos hits populares mais tocados dos últimos tempos no país, mas na voz da cantora?  Não! E a luz do palco dá dicas, essa releitura, tem duas fazes duas cantoras, nesse cover, ela consegue combinar a sua fase nova e antiga, a voz forte e a voz baixinha. Entre o azul e o vermelho, “ela se divide em duas” e canta.  No final solta humm Ufa!

Bises, ela diz isso. Apresenta a banda, faz agradecimentos. O show acentua término. Mas como ela diz, tem mais duas canções antes do fim: “Chá Verde” e “Na Varanda da Liz” – termina como começou... Transmitindo renovação e ares novos, mas sem esquecer-se da essência.


Tragédia do Rio de Janeiro

Hoje, dia 07, quinta feira, uma tragédia de grandes proporções e sem reparos entristeceu uma nação, por motivos ligados a religião (segundo carta de própria autoria), Wellington Menezes de Oliveira entrou em sua ex-escola, a municipal Tasso da Silveira em Realengo (RJ) e atirou friamente nas crianças que ali estudavam. Houve 12 mortes e 11 feridos em estado gravíssimo.

Um fato que atiça o ódio coletivo e cria um vazio interminável de ausência por procura de sentido num ato como esse. Portanto, nesse diagnostico, uma corrente de pessimismo encobre todos os cantos. A televisão se apropria da crueldade e esmaga até o caroço o sangue pra sair dinheiro. A sociedade se mostra solidária e se imagina no lugar das vítimas e depara-se com o sentimento mais arcaico do ser humano, o ódio, diante disso, combate o ódio com o ódio, o mesmo que levou essa pessoa a entrar numa escola e tirar a vida de crianças. Num exercício de procura, outro vácuo de silêncio percorre sem encontrar sentido nessa forma de encarar o fato.

Será, realmente, que todas as posições igualmente demoníacas, amenizam a dor passada e recorrente de alguma forma? Obvio que não, eu custo acreditar que católicos evangélicos, espíritas e etc, crentes em Jesus, reagem com tamanha violência perante a tragédia. Parecem desconhecer que no inicio de sua trajetória Jesus buscava a aproximação de prostituas, bandidos, assassinos, ou seja, teoricamente, a classe mais suja existente.

Longe de querer encontrar uma razão e defender o assassino, só não acho que despertar o mesmo ódio atingindo por ele, seja a melhor alternativa. O ódio ostentado cria verme, sustenta atrocidades, banaliza a violência e a estimula.

Em vez de propagar o falso moralismo atacando um cadáver, vejamos por esse caso triste, o quanto nossa sociedade é falida. Onde estamos indo exaltando tanto lixo cultural? Validando o ódio, esquecendo do amor em nossos carros particulares, a cada dia do ano desconhecendo que se vive numa sociedade ao invés disso seguem presos dentro de uma bolha individual, brigando grosseiramente nos transportes públicos por questões pobres e desnecessárias.

Chamar de demônio e filho da puta é fácil, mas é você? Que já colecionou pensamentos quase idênticos flertando com a morte de um chefe, do inimigo, de um vizinho e etc, o que se faz? Prende você por pensamentos impuros?

Quem é que tem coragem de nadar contra a corrente e ir contra o Fantástico, Sonia Abrão, Datena e sociedade, para pensar além? Ter a ciência de quanto importante é se relacionar e estimular as pessoas que necessitam de ajuda. Os recursos públicos são lamentáveis. A dor não diminui, mas a coragem de fazer diferente e saber que o simples fato de ser um cidadão ciente de seus deveres e direitos, anti incorruptível, pode fazer do mundo um lugar melhor pra se morar e as tragédias como essa podem ser enterradas no passado.

Hoje, li um artigo escrito pelo crítico de cinema Pablo Villaça sobre o assunto, onde clareou ainda mais a minha certeza de que violência não se combate com violência, foi ao final de sua escrita, quando se referiu para lembrarmos pelo que foram e o quanto brilhantes poderiam ser o futuro dessas pobres vitimas.

No cotidiano, seja aqui ou no Rio de Janeiro, ou em qualquer outro lugar, diferentes formas de violência percorrem na cidade, independente do fim, elas ocorrem a todo instante. Que fique claro, que o ruim, a tragédia, o que chocou, o que sai do controle da consciência é reflexo do espelho da hipocrisia humana, que não para um minuto para pensar o que de fato está acontecendo.

A tentativa de Aécio Neves

Ontem, dia 06 de abril ocorreu o primeiro discurso do senador eleito, Aécio Neves (a esperança final do PSDB) na tribuna do senado, onde, demonstrando obvia e premissa manobra de ganhar força como oposição visando uma futura candidatura criticou a posição atual, a presidenta Dilma Rousseff e todo o contexto político que está por traz do PT.

Continuísmo e falta de posição histórica do partido dos trabalhadores foram as criticas levantadas pelo senador, em que causou a comoção da “direita” enfraquecida.  Sábio, um dos pontos altos em seu discurso foi finalmente se beneficiar do fato de Fernando Henrique Cardoso ter sido presidente, fato esse, que foi motivo de vergonha para os tucanos ao longo da fracassada campanha do vampiro José Serra.

No ponto de vista político é um marco o posicionamento de Neves, porque parece dar indícios que o coma da oposição parece ter solução, gera vida e abre um leque de possibilidades futuras.

Agora, saindo do campo democrático de acreditar que o melhor caminho para uma sociedade e ter uma oposição, para assim evoluir, chego ao ponto pessoal e cético de pensar que o Brasil há muito tempo, exatos 8 anos não tem uma oposição decente e interessante, que se possa valer de força pra concorrer a altura da posição.

Independente da artimanha do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva de virar pelo avesso a forma de se fazer política aqui no país e ter diminuído o poder partidário, a oposição precisa se manter forte e consistente no mesmo nível, de uma forma que a sociedade tenha duas opções potentes a se votar.

Não sou favorável aos tucanos e tão pouco ao PT, entretanto, tenho a consciência do quanto é importante existir os dois lados da moeda e achei importante citar essa empreitada protagonizada pelo Aécio Neves que pela primeira vez aos logo dos anos do PT no poder deu a cara pra bater. Ainda, sigo desacreditado de que as coisas iram se direcionar a um caminho diferente, porém basta acompanhar o desenrolar dessa história e conferir se estou certo ou errado.

Lançamentos musicais que empolgam ou não!

 De dois meses pra cá, houve um boom de lançamentos sucessivos de álbuns no mercado musical nacional e internacional. Diante da notícia nada de novo, há nisso uma tradição que ocorre há séculos, com tudo, esses dois meses pra mim se tornaram especiais, muita coisa nova e que esperava, enfim ganhou forma e pude comprovar ouvindo.

No inicio de março existiu a comoção quase unânime de notar que a banda americana The Strokes, lançava seu quarto e aguardado álbum após quatro anos de recesso, “Angles” que foi comentado por aqui e ainda não saiu do meu celular, prova de que pra mim esse trabalho ainda figura obsoleto como o melhor do ano.

O velho trio REM na metade de março também apareceu em cena para lançar o “Collapase Into Now” – o décimo quinto trabalho da banda e nesse Michael Stipe fez questão de gravar só musicas inéditas, porém, sou saudosista no que se diz respeito ao trio, não curti muito o lançamento, fiz questão de guardar na gaveta, para um dia, quem sabe dar uma segunda chance.

Se existia o projeto que esperava ansioso para conferir era “A coruja e o Coração” da cantora paulistana Tiê, que depois do seu primeiro trabalho “Sweet Jardim”, me fez tornar fã incondicional, por causa do seu carisma e sensibilidade inserida na suas canções, que são de própria autoria, algumas dividindo entre parceiros, um deles o amigo e cantor Thiago Pethit. Mas, existia uma total ansiedade para rever o fantástico mundo da cantora, portanto, se concretizou e o álbum chegou, trazendo a certeza de que o primeiro tem uma superioridade difícil de ser refeita, em compensação, a voz delicada e algumas leituras de canções de outros artistas fazem o segundo LP ser competente e prestigiado.

Acho válido citar a estréia solo do multi-instrumentista, Domenico Lancelloti, conhecido por ser colaborador de diversos músicos e também integrante da “Orquestra Imperial”, em seu primeiro disco solo, lança uma obra quase cinematográfica, “Cine Prive”, que segundo o também cantor Rômulo Frôes em um artigo escreveu que o músico flerta a todo o momento com um personagem criado musicalmente, em que o método sonoro cinematográfico se reverteu, a trilha sonora estava aparecendo antes do filme que nem sequer existia, em outras palavras, Lancelloti criou os personagens para um filme que não foi realizado. Particularmente, me senti motivado em ouvir esse álbum, (no qual ainda não tive a oportunidade fazê-lo), por influência direta de Frões.

Escrevendo na semana de seu burburinho e do seu lançamento, a segunda obra de Marcelo Camelo, “Toque dela” pode ser entendido como um trabalho de continuação, como se fosse a segunda parte do “Sou”, um dos motivos por achar isso e pelo titulo que o cantor escolheu dar, quando penso em “Toque Dela”, querendo ou não, enxergo a figura de sua namorada “Malu Magalhães", a outra razão é que musicalmente o trabalho inteiro percorre como uma resposta para composições do primeiro, como se no primeiro a solidão fosse o mecanismo inspirador e no segundo o amor rebate esse estado só (ou seja, uma evolução concreta ocorreu). Logo de premissa: ele versa cantando que triste é viver de solidão, se fazer o exercício de recordar, notaremos que na primeira faixa de “Sou”, ele canta, que todo amor encontra sempre a solidão. Além de outros mecanismos sutis, no entanto, Camelo mostra para quem é fã de Los Hermanos, que o pior não ocorreu com o fim da banda, pelo contrário, testemunhamos o nascimento de um letrista ágil é leve, por meio de sua intimidade chega ao denominador comum e se torna abrangente sendo singular.   


Quase colado com o “Toque Dela”, houve o ressurgimento de Dave Grohl e sua trupe, depois de um ano e meio sem aparecer, o Foo Fighters trouxe o seu sétimo disco, o “Wasting Light”, que traz o que a banda sabe fazer de melhor, não inventar e tocar a forma simples do Rock “N” Roll. Barulhento, dançante, inspirador, Foo Fighters aparece novamente no circulo central do cenário musical e tem grandes chances de ser considerado um dos melhores lançamentos do ano. A boa é antiga formula de se tocar sem ser levado a serio e isso, Grohl sabe de sobra.

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