Bróder

      

Não é brother, é mano porra
Não se fala brother, se fala mano, quem diz essa parada é Macu (Marco Aurélio) interpretado pelo ator Caio Blat. Considerei uma resposta para a elite ou qualquer ser fora do âmbito da favela, periferia e afins precários que a retrata de alguma forma e em algum lugar , refletindo em uma abordagem caricata, distorcendo até o talo essa já sub-cultura predominante nos eixos pobres do Brasil.

O filme Bróder e dirigido por Jeferson De. Roteirizado pelo próprio com ajuda do escritor Ferrez e de Newton Caniito. Estrelado por Caio Blat, Silvio Guindane, Jonathan Haagensen, Cássia Kiss, Ailton Graça, Du Bronks e Grande Elenco.

O reprimido virou rei, ganha poder no discurso na trama, em contra partida o longa metragem não é rico em recursos técnicos, (não importa) em compensação é um grito que surge do campão vindo de um povo descriminado o tempo todo e quem sabe a vida inteira.

No 34° festival de cinema de São Paulo, tive o privilégio de assistir a seção da película, juntamente com a presença do diretor, além de conter uma parte do elenco e da produção.

Bem vindos ao Capão !!!

                                              Macu descendo a escada de sua casa

As cortinas vermelhas se abrem, quem não conhece o cinema cultura (falecido cine bom brill) conclui que estamos diante de um belo palco teatral, no entanto não, se trata de um cinema , o nde o saudosismo está presente, lá é fato.

Após uma propaganda qualquer, já vemos um imensidão de Morros, algo parecido com os existentes na cidade maravilhosa, porém me identifico logo, de baixo vejo muros pixados. É capão redondo nego.

Macu fecha seu humilde barraco e num amistoso caminho ladeira a baixo cumprimenta os iguais, crianças, senhoras, nada o difere do bom humor. Visita por acaso sua mãe, Dona Sonia, uma cozinheira de mão cheia.

Dentro da cozinha, ele se depara com uma surpresa e o publico também, e seu aniversario e sua mãe prepara uma festinha. Após a descoberta conhecemos Seu Francisco (Aiton Graça) seu padrasto e pai de sua Irma e seu irmão mais novo. Por um motivo tolo, eles discutem, dai temos a idéia que trata-se de um desafeto.

Pela câmera: uma passagem rápida pelo centro da cidade, em seguida o metro metropolitano indica a estação Capão Redondo, Pibe (Silvio Guindane) desce, amigo de infância do protagonista, caminha rumo à festinha.

Depois, dona Sônia avisa para seu esposo : Chamei o Pibe e o Jaiminho (amigos de infância) Também chamei, a vizinha e o pastor.

Jaiminho (Jonathan Haagensen) aparece na trama junto de seu empresário, o avisando que não vai para um restaurante luxuoso e sim para a casa da madrinha Dona Sônia, comer uma feijoada esperta.

Jaiminho é jogador de futebol, joga na Espanha, garoto prodígio, vive a expectativa de uma convocação para Copa do Mundo, após virar profissional deu uma sumida e abandonou a sua comunidade quase sem querer. A fama chegou, quase ninguém da comunidade entende.

                                                         Jaiminho - Macu - Pibe 

O reencontro acontece, os três amigos voltam a estar juntos no mesmo mundo, onde conheceram o lance da amizade. Num jogo de bilhar, conhecemos melhor Napão (Du Bronks), personagem que surge com a sua marra, falando gíria, se desentendendo de premissa com o jogador de futebol, reflexo da inveja, que por sua vez o faz falar para o dono do bar: Porra, porque não tem foto minha nesse bar, e so term do jogador? Maco aparece é responde: Porque você é feio.

Momento importante, que serve para ser pontuado: o envolvimento de risco do protagonista com esse personagem.

A casa de dona Sônia é humilde, a gente não repara a bagunça, com uma trilha sonora de peso, que vai desde Jorge Ben até Racionais Mcs, nos envolvemos no churrasco, oramos com o pastor antes da refeição, comemos, discutimos, tiramos a limpo o passado e o presente.

                                                Napão trocando uma idéia com Macu

Talvez nesse momento seja identificado o primeiro indício constatador, que o protagonista caminha rumo ao seu proprio precipicio, uma linha tênue do perigo e da morte.

Os planos mudaram para Macu, desdobramentos ocorrerão. A elite surge discretamente. O trio vai dar uma volta ao verdadeiro parque, rodeado de prédios enormes e carros blindados. 

                                Macu - Pibe - Jaiminho lembrando da infância distante

O destino mostra que a trajetória dos três amigos não se casa, três laços diferentes um do outro, resta apenas o momento único que a vida os proporcionou, as vezes nessa vida, é assim, só contamos com os breves momentos que podem se tornar eternos.
                                     
De dentro pra fora

Pós seção, inicia um debate do publico com o diretor e elenco presente de 15 minutos: Em suma, houve declarações que transcorria a emoção mostrada por uma parte da platéia que figura nesse contexto social ou que trabalha socialmente em alguma comunidade carente.


                                                          Jefferson De - o diretor

O diretor disse o quanto foi difícil realizar essa produção, os atores disseram o quanto foi satisfatório estarem inseridos no projeto. Um trabalho de verdade. Feito por homens que momento algum estereotipou a comunidade do capão, ou seja, tudo ali registrado é real, os trejeitos, o vocabulário, as ações, os conflitos, as relações, tudo mantendo o equilíbrio preciso.

Bróder é preciso, no nosso momento atual, como Cinco x Favela foi preciso. Ambas produções marcam um registro no qual o poder de voz é para um povo reprimido pela sociedade do consumo. De antemão não aspira ser uma obra prima, se limita no seu parâmetro social ,mas nem por isso é menos grandiosa.

Caio Blat mostra o seu engajamento na escolha de papeis,  consegue fazer um malandro periférico com uma perfeição rara. Silvio Guindane é um excelente ator e merece ser reconhecido pela população. Jonathan Hageensen se redime de sua participação no reality show da Rede Record. Cássia, Aiton, é o grande elenco são excepcionais. O rapper Du Bronks mostra seu lado cênico e atua pela primeira vez.

Jefferson De, estréia nas telas do cinema em seu primeiro longa metragem, aparentando não dar a mínima importância para os críticos de cinema. Com uma idéia na cabeça e uma câmera na mão nos mostrou o seu argumento final por meio da película.

O intuito não educar, não é ser favela. Escola boa faz educar. Favela não é sinônimo de crime. O filme remete a lembrança da situação precária existente ao qual  o poder público cruzou os braços diante disso, porém, também é muito mais, nós mostra a humildade de um povo  que vive  tranquilo em um bairro, que há anos detém o apelo (o mito) criminoso, portanto, quem é cego sai do cinema falando mal, quem tem coração se emociona durante a seção inteira.

Quem se vê se identifica, que não se vê paciência né mané, vai viver fora do seu luxo domiciliar, que talvez um dia, quem sabe ...

Abaixo uma entrevista do diretor:

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