Pedro

Pedro acordou conforme o despertador previu, sem vontade de levantar olhou rapidamente pro relógio e pensou que ainda tinha um tempinho pra cochilar, já que a entrevista de emprego estava marcada ás 13:00.

Pedro levantou de mau humor, tratou de escovar os dentes, preferiu primeiro esquentar o café é passar a manteiga nos dois únicos pãezinhos ao invés de tomar banho, sentou no sofá e se deliciou por alguns instantes pelos mesmos desenhos matutinos, trocou rapidamente de canal, colocando no sete, pode ver mais uma vez a revista eletrônica absorvendo até o caroço mais uma tragédia. Desligou a televisão. Finalmente foi tomar banho.

Pedro passou a chave na fechadura da porta, estava vestido com uma blusa social, foi andando até a estação do metrô, andou pela sombra para desviar do sol quente, após uma caminhada de vinte minutos, chegou soando á estação. Comprou o bilhete. Entrou no metrô.

Pedro escutou musica durante o percurso inteiro, desceu na estação Anhangabaú, foi andando ao local da entrevista, desta vez não conseguiu desviar do sol. Soando, entrou no prédio previsto. Subiu de elevador para o quarto andar.

Pedro saiu do elevador e entrou na empresa, deu seu nome para o atendente, dizendo que tinha uma entrevista marcada com a Ana. Depois sentou na frente de um quadro ilustrando o viaduto do chá. Olhou, Imaginou e esperou.

Pedro ainda estava esperando quando viu aproximar um garoto que aparentava ter a mesma idade, de longe conseguiu escutar da boca do atendente que aquela pessoa era seu concorrente. Continuou sentado mais desta vez ao lado do seu concorrente. Olhou de novo para o quadro, imaginou e esperou.

Pedro havia sido chamado por Ana, entrou numa sala aconchegante, sentou, olhou e ouviu as perguntas que ela fazia. Respondeu, pela primeira vez não estava nervoso. Depois, foi avisado que havia um teste á sua espera.

Pedro pegou o teste das mãos de Ana, ela saiu, o deixou sozinho com um prazo de quarenta minutos na mesa. 30 perguntas, todas alternadas, nenhuma certeza, a lembrança voltava e sumia, nenhuma certeza. Partiu para redação, tema difícil, tempo acabando.

Pedro pensou, refletiu, ao invés de inspiração veio perguntas do tipo, como uma pessoa pode ser avaliada por quarenta minutos? A resposta surgiu na abertura silenciosa da porta com a contra pergunta, acabou? Respondendo, disse que não. Escreveu o feijão com arroz.

Pedro terminou a redação e voltou à recepção, novamente diante do quadro, olhou, imaginou e esperou. Ana chamou, ele entrou, andou direto pelo corredor que era rodeado pelas salas aconchegantes. Parou e foi convidado a entrar numa sala ainda maior que todas. Entrou e olhou de cara, notou que a sala que acabara de entrar era igual daquelas que apareciam nos filmes

Pedro novamente sentou e esperou, quinze minutos depois o homem de terno entrou, sentou e disparou perguntas do tipo qual e a sua qualidade e seu defeito? A resposta veio à contra gosto com uma vontade secreta de questionar a real importância da pergunta. Silêncio pairou. Pergunta voltou.

Pedro olhou e ouviu a fala surgir, resuma sua vida. Se deu conta que teria de resumir vinte anos de sua vida em dois segundos. Pronto, resposta surgida. Virou um numero.

Pedro não era mais Pedro, era um numero, era desempregado, mais um numero.

Pedro foi liberado com a promessa de futuro contanto caso tenha o perfil da empresa aprovado, um numero.

Pedro disse tchau ao atendente, ouviu dele boa sorte. O atendente trabalhava, o quadro ficava e boa sorte disparava.

Pedro desceu pelo elevador como um numero impar, saiu do elevador como um numero impar, foi para casa com esperança de acordar no dia seguinte como um numero par e alcançar o diferencial que toda empresa pedia.

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