Capitães de Areia, 2011, Brasil


O que guardo na recordação referente a obra de Jorge Amado, Capitães de Areia, são as inúmeras forma de sabotar a leitura na época do colégio, uma ação da minha parte justificada quando recordo a escassez de motivação não recebida pelo ensino brasileiro, que cá pra nós, sem novidade nenhuma, sabemos que é precário.

Imagine o cenário: garoto entupido de propaganda televisiva, vivenciando uma época política que favorecia o esquecimento da educação, arbitrada pelos tucanos do PSDB, que entre suas manobras elitistas, danificou a estrutura educacional da cidade, concedendo a aprovação direta a todos os alunos da rede pública, cadenciando uma boa parte da criminalidade atual. Escrevo com o domínio e experiência ao redor sobre o assunto. Alias esse não é o fator determinante para nossa educação ser como ela é, são diversos e péssimos exemplos que constroem o grotesco ensino público de âmbito nacional.

Desabafos a parte da privação de uma obra extraordinária como essa, fui salvo novamente pela sétima arte, se outrora o passado deu uma rasteira impedindo de conhecer a história da trupe de Pedro Bala, o presente trouxe, se não uma leitura perfeita, no entanto um bonito retrato e por que não uma prévia de uma leitura instigante que me espera. Assistindo o filme, Capitães de Areia, dirigido pela neta do autor, Cecília Amado e cineasta Guy Gonçalves, enxerguei a importância da obra não só no campo literário como nas artes em gerais. Sem falar que nada mais justo que um presente dessa magnitude chegar aos cinemas para comemorar o centenário do autor.

É preciso cuidado no relato (principalmente de omitir uma opinião, seja o poder da sua veiculação), portanto, dessa forma reitero que a adaptação da obra escrita para a tela do cinema não é perfeita, motivos para isso são previsíveis até, o primeiro podemos revisitar na história, se formos atentos, a maioria das adaptações pecam pela falta de tempo e a necessidade de urgência de sintaxe, causando a exclusão de alguns detalhes da obra original, já em segundo lugar, a minha afirmação ocorre devido os tropeços que são repetidamente feitos pela cinematografia nacional, que em contra partida segue progredido a cada trabalho novo realizado.

Porém, esses pequenos deslizes chegam a incomodar raras exceções, como esse que vos escreve, ao decorrer do longa metragem o expectador enfrenta uma aceleração, logo um descuido no roteiro que vezes coloca a perder uma história que teria tudo para ser uma excelente narração. Desdobramentos ocasionados de repente sem aviso prévio que causam problemas nas continuações visitam o longa metragem em algumas partes. Particularmente, a trama segue uma linha não qual me agrada pouco que é a ausência de pontos chaves que poderiam dar um charme a mais ao filme, ou seja, em momentos da narração, temos o pré clímax e em seguida somos atingidos por uma cena pós clímax, quer dizer, o próprio clímax fica por conta da nossa imaginação.

Deixando pequenos ruídos de lado, enxergamos uma bela e divertida adaptação, conseguimos entrar na tela como um integrante ausente da turma de Pedro Bala, os Capitães de Areia, vemos suas realizações, vezes sentimos o mesmo ódio que a trupe sente e outras, sentimos alheio há tudo relatado, porém, além da torcida pelo final feliz de todos, inclusive do casal Dora e Pedro, o charme a parte da trama, voltamos a ser criança no momento mais bonito da produção, no qual regado à inspiradora canção de Arnaldo Antunes, Contato Imediato, damos uma volta em um carrossel junto com a trupe, representando uma forte simbologia de sonhos que estão decisivos entre continuarem estáticos ou se transformarem em possibilidades concretas de um futuro melhor. Essa cena faz um link direto no final, quando sabemos de fato o destino de cada personagem.

Outro destaque é a cultura baiana empregada em cada tomada, fala, riso e choro, um desenvolvimento autêntico que poderia ser jogado ao estereótipo, a linha tênue que divide esses dois lados foi respeitada, a começar com a escolha de atores desconhecidos e regionais, seguindo pela cultura baiana á todo momento sendo mostrada e para fechar com a chave de ouro, a atmosfera baiana conseguiu contaminar a gente (público) e resultou em uma produção leve e espirituosa.

A cinematografia brasileira está a todo vapor, apesar de pecar em pequenos passos, a caminhada segue linda. Capitães de Areia foi uma boa surpresa, rendendo ótimas horas de diversão e o mais importante, a certeza que em vida preciso ler esse livro.

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