“No bloco da classe média”

Tulipa canalisa o afeto, espontânea que só, despojada também, o palco e dela, o mundo é seu. Mas, esperamos uma segunda sessão, temos o direito, então, adentramos no seu mundo retratado no seu palco, por horas- claro. A cantora paulistana participou ontem (4) do projeto Rumos Musica organizado pelo Itaú Cultural, que trará shows com novos talentos da musica popular brasileira até o dia 8 de maio. E, Ruiz, foi a primeira a se apresentar.

Vestida com uma camiseta de outra banda descolada, a Do Amor – que também é o nome da faixa de uma música sua, Ela, a flor musical, Tulipa, pode ser considerada o retrato dessa classe média jovem, que freqüenta a augusta de baixo e tem a regalia de muitas vezes, conviver e até manter um lanço de amizade com seu próprio ídolo. Imagine, uma estória dessas acontecendo, quando os tropicalistas conviviam na mesma augusta que hoje é celebrada pela diversidade, talvez, tenha sido igual, mas como eu não vivi nessa época, escapo, fujo e divago.

Voltemos para o que de fato é fatual, o show, o de ontem. Acompanhada da família, pai e irmão no palco, tocando, ela começou como no seu primeiro álbum, Efêmera, com a faixa que ganha o mesmo nome. Entre seus versos delicados e seu pedido, entendemos, o recado estava dado, hoje ela iria ficar mais um pouquinho, iria ficar devagarinho, só que não era tarde de domingo, era noite de quarta-feira regada há ventos gelados e cervejas igualmente geladas e compradas na banca de jornal. Eu não comprei, mas enfim, o palco era dela!

Exaltada pela mídia e refletida nos seus fãs, ela tem potencial versátil, mas segue uma única linha, musicas vão, é o ritmo pouco muda, mas a originalidade é ela, não se levar tão a sério, isso a ajuda. Cantando, pintando quadros abstratos no seu mundo, mas, que demonstra ser parecido com o da platéia que a vê. Sem medo de careta e de sentar no chão, além de estar na sua particularidade, ela brinca com sua voz, a domina como quê, a prende numa jaula e a solta, variações ocorrem, desafinações nenhuma, parece não fazer força pra cantar, palmas pra ela, que não entrou no burburinho de ser a nova musa da MPB. Eu gosto de ouvir ela, por ela brincar com a sonoridade. Por ela não ligar de ser observada. Isso, hoje, é raro, que seja contemplada por isso, não por falsas mentirinhas para vender “revista Cult” espalhada por ai.

E nesse contexto: Tulipa Ruiz, tocou todas as faixas do seu álbum, lhe sobrando o atrevimento de fazer o cover da música “Da maior importância” de Caetano Veloso. Com a promessa de segundo show cumprida, uma combinação de satisfação preencheu o espaço, publico e artista, dupla felicidade numa noite fria. Cada um segue seu caminho e veja que interessante o bloco da classe média se despende desse encerramento de dia puramente musical.

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