É sobre sumir!

Os pensamentos ficam girando o tempo inteiro. Hoje só preciso desacreditar no espelho. Talvez desapareça no vento e acorde em outro instante, longe do tempo que hábito. Nó na imensidão das coisas é parar o momento. Preciso respirar e desacelerar a minha existência, fazer de segunda feira um domingo, fazer da semana um feriado com fim marcado. Comprar pipoca, mortadela, hambúrguer, sumir da vista, morrer instantes. Não tem haver com depressão, está com jeito de necessidade de ser coadjuvante do descanso. As palavras que saem da mente para a tela do computador são palavras definidas, remodeladas, companheiras desse instante. E nada é mais nada que esse instante, só é intervalo da existência. A tristeza não chegou, foi só silêncio batendo na porta, entrando pra dentro, observando, reparando as coisas no seu devido lugar. Não digo sempre, mas tem dias que é preciso parar de sonhar, a nossa mente merece dormir. Ficar branca como o silêncio, se renovar como o sol.

Meu País, Brasil, 2011

Muitas vezes nos sentimos estrangeiros em determinadas circunstâncias, acredito que seja um rito necessário na vida, sem exceção a ninguém, temos conflitos e necessitamos do afastamento do que fomos e conseqüentemente não somos mais, porém guardamos a certeza de que cedo ou tarde deveremos revisitar nossas lembranças. Há princípio a obra do cineasta Andre Ristum traz essa abordagem, só que o filme dá tanto pano pra maga, que vai além, rendendo uma história instigante.

De antemão, se tivesse que definir com um adjetivo ao longa metragem, certamente viria a mente a palavra lealdade, principalmente a realidade, não existe sobrecarga dramática e muito menos invenções, tudo mostrado na tela é na medida, deve ser por isso que a cada tomada nova nos sentimos retratados.

Na trama conhecemos uma típica família desestruturada da classe média alta paulistana, que acabará de perder o seu patriarca, Armado (Paulo José), o que torna viável e primordial a vinda do seu filho Marcos (Rodrigo Santoro) ao país, um empresário estruturado na Itália, que é casado com a italiana (Anita Caprioli).

Ao retornar a sua origem, Marcos precisa reestruturar alguns assuntos pendentes da família, no entanto começa a enxergar a complexidade de cada um deles, como o vício por jogos de carta do seu irmão mais novo, Thiago (Cauã Reymond) e a descoberta da existência de Manoela (Débora Falabella) uma irmã por parte de pai que sofre por problemas mentais. A sua passagem que a princípio seria rápida, precisa ser estendida por conta desses problemas.

Nesse momento, o fio condutor da trama é o próprio reencontro, há todo momento é mostrado pelas ações do protagonista ou pelas tomadas dos objetos que remetem uma outrora. Uma câmera inquieta e detalhista que através dos espaços redescobre suas raízes.

Entretanto, através do bom roteiro a câmera descansa e cede espaço para outras pequenas e rápidas sub-tramas que surgem ao longo do percurso, como a conversa passageira, porém primordial entre a esposa de Marcos e o seu irmão Thiago, onde entendemos a personalidade distante do protagonista e as lacunas evidentes de sua esposa. Também podemos inserir a fragilidade quase infantil de Manoela, garota que está na trama como o ponto narrativo que vai guiar o equilíbrio daquela família. Já o personagem Thiago se mostra igualmente frágil e dependente de uma referência mais velha para guiar o seu caminho, em suma seu despreparo para vida e desconsolo por não ter opção e sozinho ter que se tornar o que não quer.

A montagem da forma mais adequada possível concede incríveis lacunas de silêncio, funcionando para o expectador com um quebra cabeça sendo montando no seu tempo e na sua devida hora. Na fotografia vemos o retrato fiel de uma São Paulo cinza que se equivale a errônea vida do protagonista, que se mostra indiferente beirando a passividade ao resolver os seus problemas e encarar as suas mágoas que causaram a fuga de um passado que não se orgulha de ter, o que no começo da trama, também vemos uma Itália escura dialogando diretamente com a sua necessidade de mudança, por isso vemos o contraste branco da clinica, no qual Manoela está internada, servindo e sendo um gritante retrato de esperança sobre sua vida, através do branco vemos o quanto é importante a presença de sua irmã para o desdobramento de sua existência. No entanto o branco da clinica não permanece sozinho como o ponto crucial do desdobramento do protagonista, a todo instante se divide com o azul do mar, o que nos torna a crer que na praia ocorreu um dos poucos momentos de felicidade daquela família.

O Tema pode ser até batido, porém sempre quando uma produção mostrar os relacionamentos humanos como a sua válvula central vou estar presente para assistir. E uma das vertentes que mais agrada no cinema é essa, a realidade se confundido com a arte e vice versa. Desde que assisti o trailer do filme tive a certeza que seria uma excelente história, difícil errar também, quando se tem no elenco tanta genialidade reunida. O cinema brasileiro pode sentar e relaxar que a cada lançamento novo vem mostrando qualidade e autenticidade. 


Capitães de Areia, 2011, Brasil


O que guardo na recordação referente a obra de Jorge Amado, Capitães de Areia, são as inúmeras forma de sabotar a leitura na época do colégio, uma ação da minha parte justificada quando recordo a escassez de motivação não recebida pelo ensino brasileiro, que cá pra nós, sem novidade nenhuma, sabemos que é precário.

Imagine o cenário: garoto entupido de propaganda televisiva, vivenciando uma época política que favorecia o esquecimento da educação, arbitrada pelos tucanos do PSDB, que entre suas manobras elitistas, danificou a estrutura educacional da cidade, concedendo a aprovação direta a todos os alunos da rede pública, cadenciando uma boa parte da criminalidade atual. Escrevo com o domínio e experiência ao redor sobre o assunto. Alias esse não é o fator determinante para nossa educação ser como ela é, são diversos e péssimos exemplos que constroem o grotesco ensino público de âmbito nacional.

Desabafos a parte da privação de uma obra extraordinária como essa, fui salvo novamente pela sétima arte, se outrora o passado deu uma rasteira impedindo de conhecer a história da trupe de Pedro Bala, o presente trouxe, se não uma leitura perfeita, no entanto um bonito retrato e por que não uma prévia de uma leitura instigante que me espera. Assistindo o filme, Capitães de Areia, dirigido pela neta do autor, Cecília Amado e cineasta Guy Gonçalves, enxerguei a importância da obra não só no campo literário como nas artes em gerais. Sem falar que nada mais justo que um presente dessa magnitude chegar aos cinemas para comemorar o centenário do autor.

É preciso cuidado no relato (principalmente de omitir uma opinião, seja o poder da sua veiculação), portanto, dessa forma reitero que a adaptação da obra escrita para a tela do cinema não é perfeita, motivos para isso são previsíveis até, o primeiro podemos revisitar na história, se formos atentos, a maioria das adaptações pecam pela falta de tempo e a necessidade de urgência de sintaxe, causando a exclusão de alguns detalhes da obra original, já em segundo lugar, a minha afirmação ocorre devido os tropeços que são repetidamente feitos pela cinematografia nacional, que em contra partida segue progredido a cada trabalho novo realizado.

Porém, esses pequenos deslizes chegam a incomodar raras exceções, como esse que vos escreve, ao decorrer do longa metragem o expectador enfrenta uma aceleração, logo um descuido no roteiro que vezes coloca a perder uma história que teria tudo para ser uma excelente narração. Desdobramentos ocasionados de repente sem aviso prévio que causam problemas nas continuações visitam o longa metragem em algumas partes. Particularmente, a trama segue uma linha não qual me agrada pouco que é a ausência de pontos chaves que poderiam dar um charme a mais ao filme, ou seja, em momentos da narração, temos o pré clímax e em seguida somos atingidos por uma cena pós clímax, quer dizer, o próprio clímax fica por conta da nossa imaginação.

Deixando pequenos ruídos de lado, enxergamos uma bela e divertida adaptação, conseguimos entrar na tela como um integrante ausente da turma de Pedro Bala, os Capitães de Areia, vemos suas realizações, vezes sentimos o mesmo ódio que a trupe sente e outras, sentimos alheio há tudo relatado, porém, além da torcida pelo final feliz de todos, inclusive do casal Dora e Pedro, o charme a parte da trama, voltamos a ser criança no momento mais bonito da produção, no qual regado à inspiradora canção de Arnaldo Antunes, Contato Imediato, damos uma volta em um carrossel junto com a trupe, representando uma forte simbologia de sonhos que estão decisivos entre continuarem estáticos ou se transformarem em possibilidades concretas de um futuro melhor. Essa cena faz um link direto no final, quando sabemos de fato o destino de cada personagem.

Outro destaque é a cultura baiana empregada em cada tomada, fala, riso e choro, um desenvolvimento autêntico que poderia ser jogado ao estereótipo, a linha tênue que divide esses dois lados foi respeitada, a começar com a escolha de atores desconhecidos e regionais, seguindo pela cultura baiana á todo momento sendo mostrada e para fechar com a chave de ouro, a atmosfera baiana conseguiu contaminar a gente (público) e resultou em uma produção leve e espirituosa.

A cinematografia brasileira está a todo vapor, apesar de pecar em pequenos passos, a caminhada segue linda. Capitães de Areia foi uma boa surpresa, rendendo ótimas horas de diversão e o mais importante, a certeza que em vida preciso ler esse livro.

O caminho é o mesmo, os passos podem ser diferentes


Desestabilizar o olhar
Tirá-lo do conforto

Por favor, prossiga

Sigo
Caminho estreito
Meu
Já foi seu
De outros
Vão ser

Os dias no estreito caminho
Passos de todas as idades
Só quem sobrevive
As paisagens
Não se movem
Testemunham
O andar
Aproximam-se das lembranças
Lembranças contaminam
Pensar
Cada um tem
O seu

A cada passo enfrentado no caminho
Já é passado
Paisagens 
Muita imaginação parada
Olham

Pensar que vai passar 
É futuro
Passar de fato
É passado
Brigar com alguém passando é lembrança
Lembrança é mente
Cada um tem a sua

As ruas tem várias percepções da nossa vida
A gente não para
Elas têm tempo de sobra pra perceber

Indagações de todo dia



Na solidão quem se aproxima?
O silêncio

Um presente
Sem forma?

Caminhar sem volume incomoda?
O nosso andar

Pés cansados é certeza de retrocesso
Do nosso caminho?

Televisão a cabo é?
Solidão de concreto

Lacuna não preenchida
É vazio querendo falar?

Encontrar quem não quer é?
Medo de ficar mudo

Falar do tempo é saída
De fugir do inesperado?

Não saber cozinhar é?
Medo de ser sozinho

Estar trancado dentro do quarto é o silêncio gritando
Na vida parada?

Silêncio
Um minuto, por favor

Vamos pensar

Pense

Sensorial
Integração do nada com tudo

Voltamos no inicio 

Dentro da barriga da nossa mãe é sem volume
É medo de nascer?

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