Mascar automóveis causa Solidão! Caminhar causa respiro


Barulho de automóveis, ao fundo do meu caminhar, olho de relance pra trás vejo buzinas, sinto cores, toda incertas sem definição, querendo chegar. Logo, se não tivesse andando certamente perguntaria aonde querem chegar? Mas também quero chegar pra amanhã continuar, não posso, tenho pressa, pego do bolso, passo o bilhete, rodo a catraca, fico sozinho estando junto, a porta abre, saio, outra multidão, não encontro ninguém, quero chegar, amanhã continuo, pressa, baldeação, fecho a boca, sinto olhares, cansaço. Em cima de nós, a buzina é ouvida no inconsciente de nosso andar. Viajo nas ruas do pensar, o tempo não para, dormindo tem gente acordado, matando tem gente nascendo. A vida é assim, quando paramos para pensar na vida? Mascar chiclete faz a minha boca falar no meio da multidão, entre os dentes e a saliva encontra-se o gosto desaparecendo lentamente, ajuntando-se as histórias sumindo pelo barulho da porta abrindo. A vida é assim, o metrô não valoriza as paisagens, pelo aperto do vagão, raros são os que percebem que há paciência no outro lado da locomoção. As cores continuam, dizem- me alguns que foram parceladas pelo mesmo tempo de uma copa. Do mundo, não sei dizer, o cinema sugere, mas da cidade que observa a degradação social eu sei. Do caminho pra casa, vejo pixação, olho mendigos, escuto plantar música da rua, compartilho sobrevivência do verde no asfalto, sinto vento, abraços de graça, cheiro a vida num lado só do nariz, fico doidão de caminhar sem rumo vendo histórias, entrelaçando lembranças. Olho pra trás e as cores ainda persistem indefinidas, continuo na brisa de viver o que não sei. Mesmo com pressa, não tenho tempo para decorar nomes de carros, não olho pra bares, desvio da vaidade, sou cego perante as vitrines. Antes de você abrir a boca, já deixo claro que não sou Marxista, odeio rótulos. Quero estar inerente de ser rotulado. Vejo o que não me obriga a sair de mim, vejo o belo. Sinto a cidade que já não cabe mais em mim. Sem pressa, com pressa, vai entender, como consegui ser assim: dúbio.

Meia noite em Copacabana

Primeiramente: obrigatório é fazer as devidas constatações a respeito do trabalho do senhor Woody Allen. O mesmo é achincalhando por muitos “cinéfilos”, que atribuem a pós-modernidade como parecer determinante para a perda de mão do cineasta. Obvio que o velhinho não está mais no auge da sua realização cinematográfica, no entanto, mesmo sem um terço de sua genialidade, poucos criam histórias banais como ele.

Dessa forma, como não ficar entusiasmado, deliciado com o novo longa-metragem, Meia Noite em Paris? É impossível, Allen tem uma sensibilidade para conduzir narrativas raramente vistas, um atributo que cada vez é difícil de encontrar, seja na literatura ou cinematografia.

E quando o mesmo utiliza Paris como pano de fundo, uma possível crítica feita séria encarada como dor de cotovelo ou qualquer coisa do tipo, certeza absoluta, não por se tratar de uma obra-prima, ao contrário disso, enquanto discutido os recursos técnicos, existe uma ampla abertura para as suas limitações, porém, sejamos menos cabeções e nos rendemos a Paris retratada e ao modo do autor de narrar uma historinha, que nas mãos de outro poderia ser algo muito bobo e sem verdade.

Justificativas feitas!

Observei um pequenino tema que permeia os dois últimos longas-metragens que eu assisti. Pequenino pela forma que aparece em ambos, certamente em ambos a aparição ocorre de uma forma secundaria. O penúltimo filme que eu vi no cinema foi “Copacabana” longa-metragem Francês, que tem uma trama um pouco similar com a nova história de Allen. Os dois filmes mostram que o descontentamento do indivíduo com o seu tempo, a sua circunstância pode ser exposto em qualquer situação, como também a futilidade do ser humano pode ser inserida independente da cultura apresentada ou poder aquisitivo.

Olhe: Em Copacabana, a protagonista Babou está deslocada de sua realidade, sente-se reprimida através de costumes consagrados, uma falsa ordem que se espalha na sua principal relação, por meio da sua filha. Em Meia Noite em Paris, Gil, é um roteirista de Hollywood deslocado de seu tempo, vê suas atitudes sendo reprimidas por sua futura noiva e a família dela.

Babou sonha morar em Copacabana, Gil tenta ser um escritor e sonha com a Paris na década de 20. Nos dois casos, os protagonistas estão sufocados na busca de outros ares.

Em ambos os roteiros, a comédia é a forma que dita os ocorridos. A leveza está cem por cento em cada cena, ambas entrelaçam muito bem com um sentimento de ingenuidade presente na narrativa, sendo vista por intermédio dos protagonistas.

A cidade carioca funciona para a personagem principal como um mecanismo de uma possível transformação e a atração por manter uma sobrecarga de achar que lá tudo será diferente daqui (nesse caso a realidade da protagonista). Algo parecido ocorre com o personagem de Allen, que também, sobrecarrega em outro tempo a busca da sua possível felicidade. Dá para entender que ambos criam expectativas no longe por conta da futilidade que os relacionamentos mais próximos demonstram.

Um determinado personagem do filme de Allen, no qual eu não me lembro qual seja, fala uma sábia frase, que esclarece de fato, porque o ser humano está sempre descontente com a sua realidade, julgando que outra seria mais apropriada para ser vivida. O buxo ocorre por que o individuo que crê nesse diagnóstico, certamente não tem a proximidade com o discurso das pessoas que vivem ao seu redor.

Teorizando, o assunto central se mostra bastante complexo, em compensação, quando inserido na tela, notamos duas formas delicadas e divertidas de retratarem o problema da necessidade da inclusão. A eterna busca de identidade que afeta jovens, adultos e idosos.

Woody como sempre coloca sua própria carga emocional no seu protagonista, ou seja, Owen Wilson faz o próprio Allen em diversas cenas. Paris e Copacabana são personagens das duas histórias, as cidades são fios condutores para os personagens. Copacabana nesse caso de uma forma indireta, já que a cidade nunca aparece, segue trilhando o filme inteiro como um sonho distante da protagonista.

É interessante perceber as singularidades entre os dois filmes, que a principio se forem juntados não dizem nada em comum, no entanto se forem destrinchados como forma de análise, terão suas semelhanças, exemplos que não faltam: protagonistas idênticos, antagonistas também, fio condutores idem.

O fato é que os dois filmes me divertiram bastante e me jogaram questões importantes de como ser verdadeiro consigo mesmo, independente das pedras que rolam soltas no caminho. Parece bobo, mas hoje, no tempo das redes sociais, em frente a realidade das pessoas cada vez mais neuróticas e influenciadas por costumes infantis se mostrando dentro de um joguinho, onde a aparência é mais importante que o ser.

É tem gente que acha que não se pode tirar leite de pedra!

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